TRÊS LIÇÕES DE CLASSE
Wallace Melo*
A histórica relação entre capital e trabalho nos
permite enxergar e compreender muitos aspectos que alicerçam as sociedades
capitalistas, uma vez que, a produção econômica torna-se elemento determinante
para o entendimento acerca das interações e forma de organização do nosso meio.
Com a pandemia, essa relação, em dados momentos,
ficou bastante nítida, uma vez que percebemos o quanto as estruturas são
afetadas, seja quando os processos produtivos cessam ou retardam, ou quando
crescem em sua oferta e demanda. Em ambos os casos, as implicações se
estabelecem, principalmente, na interação entre trabalhadores e patronato.
Quando falamos em aumento dos ganhos com a
produção, percebemos, em dados casos, ao invés da valorização da mão de obra,
uma maior exploração do trabalho. Pensemos aqui, nas empresas de aplicativo, o
quanto essas estão lucrando, em detrimento do cotidiano dos seus
trabalhadores(as).
Por outro lado, no momento que o déficit na
produção é percebido, também sofre a classe obreira, seja com demissões ou com
retiradas de direitos. É assim que os fatos teimam em funcionar. Dessa forma,
os trabalhadores e trabalhadoras ficam praticamente entre a cruz e a espada.
A situação só piora. Após a reforma trabalhista,
imposta pelo ex-presidente golpista, Michel Temer, as organizações sindicais
foram profundamente afetadas e preteridas pelo Estado. Os direitos foram
flexibilizados e os interesses empresariais tornaram-se a única agenda
governamental.
O desemprego e a precarização das relações laborais
são emergentes e a mentira do “menos direitos, mais empregos” está sendo
percebida, sobretudo nesse horizonte de crise.
Mas, o que fazer perante esse estado de coisas?
Ora, se a agenda econômica não é favorável aos
trabalhadores e trabalhadoras, sem dúvidas que a ferramenta mais viável para
invertermos a lógica posta, ainda se encontra no fortalecimento das lutas e das
organizações sindicais. Eis a ferramenta estratégica no empreendimento de
entendimentos e acúmulo de forças necessárias para o momento.
Frente a isso, avalio que a classe trabalhadora,
junto as suas organizações detêm algumas importantes tarefas a serem
desempenhadas a luz do atual contexto histórico. A primeira consiste no
fortalecimento dos sindicatos, é imperioso que, mesmo em cenário adverso,
tenhamos sempre a motivação de construirmos entidades fortes e alinhadas com os
anseios classistas e de suas respectivas categorias.
Também pontuo como elemento central dessa
discussão, a ampliação dos sindicatos como organizações responsáveis pela
formação da classe trabalhadora, seja no que tange a questões mais amplas da
política e da economia, quanto aos pontos mais específicos do cotidiano de suas
bases.
E por fim, ter a capacidade de dialogar com os
amplos setores da sociedade e assim, construir o hábito de “falar pra fora”,
formar/disputar a opinião pública, ocupar espaços da política (cargos eletivos,
conselhos etc.).
O tempo não permite mais que tais entidades sejam incubadoras
de práticas sectaristas, isoladas ou corporativistas. É como diz a máxima
operária, “sindicato que não debate ou tampouco faz política, torna-se apenas
um mero clube de vantagens”.
No horizonte, os ventos podem nos levar a mudanças,
aproveitemos e sigamos firmes e unidos em lutas!
Wallace Melo Barbosa é professor, humanista,
secretário de formação sindical do Sinpro Pernambuco
Por que partidos políticos são
tão necessários? https://bit.ly/3jbou6m
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