A roupa do domingo
Luciano Siqueira
Na minha infância os dias da
semana tinham um significado próprio, pelo menos lá em casa onde o costume era
considerar de segunda a sexta dias “normais“, o sábado dia da feira e o domingo
guardava uma certa solenidade.
Morávamos na Lagoa Seca, em Natal.
A feira meu pai fazia bem cedinho no bairro vizinho, Alecrim.
Fui com ele várias vezes e me
sentia importante porque seguíamos pouco depois das 5h00 da manhã, a pé, eu escutando
a conversa dos adultos.
Num certo período se falava da
saúde de um tal Dr. Choque, um cidadão assim apelidado em razão de um tique
nervoso. Também conversavam sobre a carestia, a inflação dos
produtos da cesta básica.
Certa vez se comentou a vinda do grande astro da época, Cauby Peixoto, que viria a Natal trazido pela recém-fundada Rádio Nordeste.
Na tarde do domingo devíamos estar
todos “bem arrumados”, como recomendava minha mãe. Mesmo que não fôssemos a
lugar nenhum.
Hoje a dimensão do tempo e dos
dias é outra. Nada que se pareça com os hábitos simples de uma família de
classe média baixa, num bairro periférico tranquilo, do final dos anos 50.
Em tempo de revolução tecnológica
4.0, nossos hábitos são determinados pela velocidade com que as informações
circulam e as coisas acontecem.
Os fatos se sucedem num moto
contínuo, sem espaço para atitudes contemplativas nem para a valorização das pequenas
coisas da vida.
Na tela do computador ou do
smartphone os minutos correm e os dias se confundem e se superpõem.
Não há mais espaço para escolher solenemente que
roupa vestir no domingo.
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