09 março 2021

Repercussão na mídia internacional

“Potencial para remodelar o futuro político do Brasil”, diz NYT sobre Lula

"O atual presidente, um líder polarizador de extrema direita que homenageia a ditadura militar brasileira, enfrentaria um desafio formidável em Lula", trouxe o jornal norte-americano

Jornal GGN

 

A decisão do STF de suspender os processos contra o ex-presidente Lula tem “potencial para remodelar o futuro político do Brasil”, afirmou o The New York Times, em publicação em seu site e edição impressa desta terça-feira (09). “O atual presidente, um líder polarizador de extrema direita que homenageia a ditadura militar brasileira, enfrentaria um desafio formidável em Lula, amplamente conhecido como ‘Lula’ no Brasil, um ex-prisioneiro político que continua reverenciado entre os brasileiros pobres.”

O jornal norte-americano também destacou que a condenação contra o ex-presidente brasileiro é questionada por motivações políticas, impedido de concorrer às eleições em 2018, quando era favorito. Também lembra que o juiz que o condenou, Sérgio Moro, ingressou no governo Bolsonaro como ministro da Justiça logo após a posse do presidente. E, ainda, que a força-tarefa que investigou Lula, em Curitiba, “foi dissolvida no início deste ano em meio a questionamentos sobre irregularidades éticas e processuais por parte de seus procuradores”.

“Na segunda-feira, o juiz do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, decidiu que Lula nunca deveria ter sido processado em Curitiba”, completou a publicação.

Segundo o NYT, a decisão do juiz “chocou o establishment político brasileiro, sacudiu o mercado de ações e gerou uma enxurrada de previsões sobre a corrida presidencial do próximo ano”. E mencionou o lawfare contra o líder político: “Aliados políticos no exterior celebraram a perspectiva de um retorno de Lula, que convenceu muitos líderes de esquerda em todo o mundo de que os processos contra ele eram uma forma do que ele e seu termo de defesa chamaram de ‘lawfare’.”

Por fim, o periódico analisa que em meio à “tumultuada Presidência de Bolsonaro”, não há um nome que poderia “desafiá-lo no próximo ano”, o que “provavelmente deixa Lula singularmente qualificado para montar um retorno, enquanto o Brasil cambaleia com o custo brutal da pandemia de coronavírus”.

Leia a íntegra da reportagem:

A decisão de um juiz da Suprema Corte prepara o terreno para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrer contra o presidente Jair Bolsonaro na disputa presidencial do ano que vem.

Por Ernesto Londoño e Letícia Casado

RIO DE JANEIRO – Um juiz do Supremo Tribunal Federal do Brasil arquivou nesta segunda-feira vários processos criminais contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, restaurando seu direito de buscar concorrer à Presidência novamente, em uma decisão com potencial para remodelar o futuro político do Brasil.

Lula, um feroz líder de esquerda que liderou o Brasil de 2003 a 2010, foi o favorito na disputa presidencial de 2018 que acabou vencida por Jair Bolsonaro. Mas o Supremo Tribunal Federal, em abril daquele ano, decidiu que o Sr. da Silva não poderia aparecer na cédula em decorrência de uma condenação em um caso de corrupção proferido em 2017.

Com seus direitos políticos agora restaurados, Silva deve concorrer contra Bolsonaro nas eleições presidenciais do próximo ano.

O atual presidente, um líder polarizador de extrema direita que homenageia a ditadura militar brasileira, enfrentaria um desafio formidável em Lula, amplamente conhecido como “Lula” no Brasil, um ex-prisioneiro político que continua reverenciado entre os brasileiros pobres.

Lula, 75, e muitos de seus apoiadores há muito argumentam que os processos criminais contra ele têm motivação política. O Sr. da Silva foi condenado por aceitar um apartamento à beira-mar como parte de um esquema de propina envolvendo contratos governamentais.

“O ex-presidente Lula foi preso injustamente, teve seus direitos políticos indevidamente revogados e seus bens congelados”, disseram os advogados de Lula em um comunicado.

O Sr. da Silva foi condenado a 12 anos de prisão, mas uma decisão da Suprema Corte em novembro de 2019 permitiu que ele permanecesse em liberdade enquanto seus recursos estavam bloqueados.

O juiz federal que supervisionava o caso, Sergio Moro, deixou a magistratura logo após a posse de Bolsonaro e ingressou em seu governo como ministro da Justiça.

A força-tarefa anticorrupção que investigou Lula, que tinha sede na cidade de Curitiba, no sul do país, foi dissolvida no início deste ano em meio a questionamentos sobre irregularidades éticas e processuais por parte de seus promotores.

Na segunda-feira, o juiz do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, decidiu que Lula nunca deveria ter sido processado em Curitiba. A decisão, que abrange quatro processos criminais, não representou a absolvição do Sr. Lula. O gabinete do procurador-geral disse logo após a decisão ser proferida que iria buscar uma decisão do tribunal pleno.

O ministro Fachin disse que o ex-presidente ainda pode enfrentar acusações se promotores na capital, Brasília, decidirem assumir alguns dos casos. Lula enfrenta outros três casos de corrupção em Brasília, que ainda não chegaram a um veredicto.

A decisão do juiz de cancelar os casos chocou o establishment político brasileiro, sacudiu o mercado de ações e gerou uma enxurrada de previsões sobre a corrida presidencial do próximo ano.

“No Brasil, até o passado é incerto!”, disse o ex-presidente Fernando Collor, no Twitter.

Aliados políticos no exterior celebraram a perspectiva de um retorno de Lula, que convenceu muitos líderes de esquerda em todo o mundo de que os processos contra ele eram uma forma do que ele e seu termo de defesa chamaram de “lawfare”.

“Justiça foi feita!”, disse o presidente Alberto Fernández, da Argentina, em um comunicado, argumentando que os casos contra Lula foram encaminhados “exclusivamente com o objetivo de persegui-lo e eliminá-lo da disputa política”.

O Sr. da Silva foi alvo de uma ampla investigação de corrupção que começou em 2014 e derrubou o establishment político e empresarial do Brasil por anos.

Moro, um juiz de carreira de 48 anos, tornou-se a figura mais visível, que muitos brasileiros apoiaram ardentemente no início, vendo-a uma forma de combater a cultura endêmica de corrupção do país.

Mas o brilho de Moro diminuiu nos últimos anos, à medida que seus motivos e sua ética foram questionados. Muitos viram sua decisão de entrar para o gabinete de Bolsonaro – com quem teve uma desavença em abril passado – como uma forma de minar a integridade de seu trabalho como juiz.

A defesa de Lula ganhou um grande impulso em junho de 2019, quando o The Intercept Brasil, um site de notícias online, publicou mensagens vazadas trocadas entre procuradores e Moro. As mensagens mostraram que Moro deu dicas e orientações estratégicas aos procuradores, em violação às regras de conduta dos juízes no Brasil.

Moro não quis comentar na noite de segunda-feira.

Lula, um ex-líder sindical que começou na política desafiando a ditadura militar que o aprisionaria, tornou-se o líder mais popular do país desde o restabelecimento da democracia em meados da década de 1980.

Ele governou durante um período em que a economia do Brasil floresceu com o aumento dos preços das commodities, um boom que Lula usou para tirar milhões da pobreza e expandir o acesso ao ensino superior para comunidades marginalizadas.

Mas seu governo também foi afetado por escândalos de corrupção. Muitos aliados próximos foram processados ​​por seu papel em enormes esquemas de propina que revelaram um sistema de suborno institucionalizado, envolvendo algumas das maiores empresas do Brasil .

Durante a tumultuada Presidência de Bolsonaro, os partidos de oposição não conseguiram se unir em torno de um político que poderia desafiá-lo no próximo ano. Isso provavelmente deixa Lula singularmente qualificado para montar um retorno enquanto o Brasil cambaleia com o custo brutal da pandemia de coronavírus.

Bolsonaro classificou na segunda-feira a perspectiva de uma nova candidatura presidencial de Lula como desastrosa. “Acho que o povo brasileiro não vai querer um candidato como ele em 2022 e nem pensemos em sua possível eleição”, disse o presidente aos jornalistas.

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