20 julho 2021

Batalhas sequenciadas

“Mesmo que variantes escapassem da eficácia vacinal, teríamos êxito”

O secretário de Saúde do Espírito Santo e sanitarista, Nésio Fernandes, fala da importância da imunização coletiva contra covid. Ele acredita que a Astrazeneca deve se consolidar como principal vacina do Brasil.
Cesar Xavier, portal Vermelho

 

Em opinião divulgada por meio de suas redes sociais no último sábado (17), o secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, médico sanitarista, fala sobre as novas cepas do coronavírus, a importância da cobertura vacinal como estratégica de saúde coletiva e o papel fundamental do SUS na luta contra a Covid-19.

Para ele, se conseguirmos a imunidade coletiva com a maioria da população vacinada, ainda que novas cepas tenham “escape parcial” da eficácia das vacinas disponíveis, “ainda que derrubem para 40% a eficácia das mesmas, com plena cobertura vacinal alcançaríamos êxito no controle da morbimortalidade”. Apesar de levantar essa hipótese, o médico destaca que não se confirmou, até hoje, essa ineficácia contra as variantes.

Mas, para que esse êxito ocorra, ele enfatiza a importância da estratégia coletiva da vacinação, inclusive de adolescentes. Ou seja, as pessoas precisam compreender que a vacina não tem resultados individuais, mas toda a população precisa estar vacinada para que o vírus não tenha circulação.

“Repito o que tenho dito ao longo da pandemia: vacinação é estratégia coletiva, principal medida de prevenção primária capaz de controlar a covid-19, desta forma o que determina o sucesso da política é a plena cobertura vacinal e não a eficácia individual prometida em bula”, aponta. Sem isso, a pandemia se prolonga indefinidamente em ondas de contágio e morte.

Autonomia vacinal com Astrazeneca e Butanvac

Ele também opinou que a vacina da AstraZeneca deve consolidar-se como o principal imunizante do SUS, caso não haja novidades. O argumento do gestor de saúde, é que o governo poderá prescindir de outras vacinas, devido à segurança e a eficácia da vacina britânica, associada ao baixo custo de produção e à transferência de tecnologia materializada para Fiocruz. Se a Butanvac, vacina totalmente brasileira em elaboração, cumprir os requisitos necessários, pode vir a incrementar a autonomia nacional na imunização.

“Com os dados de hoje, a vacina produzida pela Fiocruz possui a melhor relação custo-efetividade entre as diversas opções disponíveis”, afirmou Fernandes. Ele ainda prevê que, até o final do próximo ano, haverá atualizações tecnológicas nas vacinas e reforço de doses na maioria delas.

O desafio da imunidade coletiva

Desta forma, o principal desafio, na opinião dele, é alcançar plena cobertura vacinal com o catálogo de vacinas disponíveis. Com as vacinas disponíveis controlaremos radicalmente as internações e óbitos, no entanto, o vírus com menor letalidade continuará circulando.

“Precisamos compreender que num cenário de controle da morbimortalidade, cada vez mais recairá sobre a sociedade e o indivíduo a responsabilidade do livre arbítrio. Conscientização no uso disciplinado das máscaras e para evitar atividades e comportamentos de risco”.

Com isso, em meio às polêmicas que surgem todos os dias, permanecem valendo os conselhos iniciais da Organização Mundial da Saúde (OMS) de garantir algum distanciamento físico e higiene, com uso de máscara em ambientes mais arriscados. “As diversas polêmicas do momento são justas e merecem um reconhecimento: todos querem acertar e apontar o melhor caminho para superar essa noite escura. Na multidão de conselhos há sabedoria”, parafraseou ele.

Apesar de toda a desinformação estimulada pelo bolsonarismo, fatores como a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a estão da pandemia, contribuiram para dar maior clareza, “onde os embustes e sabotagens estão sendo revelados”. “Esse contexto permite a sociedade e aos gestores do SUS um ambiente favorável à unidade ampla e à coesão tripartite entre Ministério da Saúde, estados e municípios”, diz o gestor capixaba.

“Hoje não perdemos mais tempo discutindo o uso de antimaláricos e antiparasitários, ou se máscaras devem ou não ser usadas. Acredite, para o que já vivemos na pandemia, já é um avanço”, comemora ele, com uma ponta de lamento.

“Se deixarem o SUS trabalhar, nós sabemos construir uma unidade administrativa independente de cores políticas, ideológicas ou da agenda eleitoral”, concluiu.

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