A incrível leniência com as
criptomoedas
Luis Nassif, Jornal GGN
É
inacreditável a maneira como autoridades reguladoras do mundo estão tratando o
fenômeno das bitcoins e seus sucedâneos. Não há nada que explique sua
existência, a não ser a enorme liquidez internacional, que transformou os
mercados em um imenso cassino.
Qual
o tratamento que se dá ao bitcoin? Moeda, definitivamente não é. Uma moeda tem
que ter, necessariamente, um garantidor de última instância, um país, um banco
central, uma fonte perene de receitas.
Os
bitcoins não têm nada. Não tem nem parâmetro para precificação. Se um
bilionário, como Elon Musk, anuncia que aceitará bitcoins na venda de seus
carros, o valor explode. Se, no momento seguinte, diz que não vai aceitar mais,
o valor desinfla. Como considerá-la adequada como reserva de valor com tal volatilidade
e falta total de parâmetros para analisar seus ciclos?
De
certo modo, tenta-se emular o padrão ouro para o bitcoin. Daí o conceito de
mineração, que é de uma piração total. Minerar bitcoin consiste em colocar
computadores para processar algoritmos, da mesma maneira que garimpeiros
buscavam ouro.
É
uma analogia maluca. O ouro tornou-se padrão exclusivamente devido a um acordo
entre bancos centrais, para impedir a volatilidade das moedas nacionais. Ou
seja, seu papel consistia exclusivamente em criar um parâmetro universal para o
alinhamento universal dos preços nacionais e como agente coordenador do câmbio
– dos negócios entre moedas de países distintos.
O
que não se dão conta é que o ouro só existiu como padrão devido à concordância
dos estados nacionais e à articulação entre os bancos centrais dos diversos
países.
Tendo
o dólar – garantido pelo governo americano -, o renminbi – garantido pelo
governo da China -, o euro – garantido pela União Europeia -, sendo esses
grupos de países dominantes no comércio internacional, a troco de que se
aceitaria a substituição dessas moedas por bitcoins?
Portanto,
instrumento de troca, o bitcoin não é.
O
único mercado no qual o bitcoin – e seus assemelhados – é dominante é o do
crime organizado e o da lavagem de dinheiro. É evidente que, mais cedo ou mais
tarde, haverá uma ação articulada policial em todos esses mercados, assim como
houve contra os paraísos fiscais. E, quando isso ocorrer, não haverá para onde
fugir porque, no final da linha, sempre haverá um banco regulado para o
dinheiro ser rastreado.
Hoje
em dia não há dados públicos oficiais sobre nada que se refere a esses
mercados, nem preços, nem volumes negociados, nem a identidade dos
investidores.
O
fato de ser um bicho estranho provocou um vácuo regulatório nos Estados Unidos,
o epicentro desse fenômeno. Por lá, há uma enorme fragmentação da regulação,
com a confusão histórica entre união e estados, cada qual com suas entidades
regulatórias e bancos centrais.
Essa
confusão faz com que a SEC (Comissão de Valores Mobiliários) trate o bitcoin
como mercadoria. Outros tratam como títulos. Ele não é nada disso, é apenas uma
ficção especulativa, como tem sido o comércio de antiguidades, o de imagens
computadorizadas e outras loucuras provocadas pelo excesso de liquidez e
redução dos juros de títulos públicos.
Essa mesma falta de definição permitiu a expansão dos CDS
(seguro criado para garantir financiamentos habitacionais). E os órgãos
reguladoras só passaram a atuar depois da grande explosão de 2008.
Veja: A CPI continua botando mais caroço para
o indigesto angu de Bolsonaro https://bit.ly/3dkvSvC
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