04 julho 2021

Palavra de poeta: Carlos Drummond de Andrade

Lira romantiquinha

Carlos Drummond de Andrade
 
Por que me trancas
o rosto e o sorriso
e assim me arrancas
do paraíso?
 
Por que não queres
deixando o alarme
(ai, Deus: mulheres)
acarinhar-me?
 
Por que cultivas
as sem-perfume
e agressivas
flores do ciúme?
 
Acaso ignoras
que te amo tanto,
todas as horas,
já nem sei quanto?
 
Visto que em suma
é todo teu,
de mais nenhuma
o peito meu?
 
Anjo sem fé
nas minhas juras
porque é que é
que me angusturas?
 
Minh'alma chove
frio e tristinho
não te comove
este versinho?


[Ilustração: Fernando Botero]
.

Veja: A poética ousada e cativante de Joana Côrtes https://bit.ly/3xdnKW8

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