São Paulo é um time agressivo,
mas muito apressado para chegar ao gol
Rogério Ceni será um dos
grandes treinadores da história do futebol brasileiro. Ainda não é
Tostão, Folha de S. Paulo
A
festa dos torcedores e os estádios cheios estão lindos. Espero que isso não
seja motivo para o aumento da Covid-19. A epidemia está em grande queda, mas
ainda não acabou. O reencontro dos torcedores com os estádios é
também uma maneira de sublimar, de transformar em alegria, os dois anos tristes
de isolamento e os graves problemas que assolam o país.
O
calendário em ano de Copa está ainda pior. É jogo demais, aqui e na Europa.
Tenho de selecionar as partidas. Não pretendo também gastar dinheiro com jogos
ruins, já que os direitos de transmissão foram pulverizados.
As grandes equipes brasileiras possuem bons elencos e
deveriam lutar por todos os títulos. Evidentemente, terão de alternar alguns
jogadores a cada partida, desde que não formem um time titular e outro reserva.
Treinador bom é o que tem conhecimentos técnicos e que seja um gestor
competente.
Das
três equipes brasileiras mais fortes, apenas o Atlético ganhou na primeira
rodada do Brasileirão. "O Galo ganhou" e "Hulk fez gol" se
tornaram motes dos torcedores. A cada rodada, criam um novo herói, um novo time
sensação, um novo técnico é demitido (foram dois na primeira rodada) e pedem um
novo jogador na seleção. Após os três gols, até Calleri, se fosse brasileiro,
estaria sendo reivindicado.
Os
heróis são geralmente os artilheiros, os meias camisas 10, e os pontas hábeis e
dribladores. Os bons meio-campistas, construtores e pensadores, são
esquecidos. Por isso e por outros motivos, houve uma queda do futebol
brasileiro na última década.
Ouço
muito que um time faz a saída desde a defesa, com um volante recuado entre os
dois zagueiros para iniciar as jogadas de transição, como se isso fosse uma
grande novidade. No passado, os bons centromédios, antes de serem chamados de
volantes, já faziam o mesmo, como Dino Sani, Clodoaldo e outros. Antes, o
volante recuava porque os zagueiros não costumavam passar a bola. Hoje, é
porque são pressionados pelos adversários.
Corinthians
e São Paulo podem evoluir e se juntar aos três mais fortes. O São Paulo é um
time agressivo, ofensivo, que joga apenas com um jogador no meio-campo (Pablo
Maia) e mais cinco próximos da área adversária. Funciona muito bem em casa e/ou
contra adversários inferiores. Contra times do mesmo nível ou mais fortes, fora
de casa, como foi contra o Palmeiras, a defesa fica
desprotegida, além de faltar mais domínio da bola no meio-campo e mais troca de
passes. O time é muito apressado para chegar ao gol.
Após
a vitória por 4 a 0 sobre o Athletico, Rogério Ceni, em vez de ficar alegre e
de comemorar, lamentou bastante, com ressentimento, a perda do Campeonato
Paulista. Disse que foi a pior derrota em sua carreira, mesmo como jogador,
pelas circunstâncias de ter a vantagem de dois gols. Lembrei da última e
belíssima coluna – todas são belíssimas –, escrita por Antonio Prata, "Do Leme ao Frontal": "Todas as pessoas são
ressentidas. Todas".
Eu
diria também que todas as pessoas possuem algum sentimento de culpa, real ou
imaginário, por não terem feito, em algum momento, algo diferente na vida.
Rogério Ceni, perfeccionista, não falou, mas deduzi que está com um sentimento
de culpa, pelo São Paulo não ter adotado uma outra postura na final contra o
Palmeiras. Por ter muito conhecimento e por ser utilitarista e obsessivo
pelos detalhes, penso que Rogério Ceni será um dos grandes
treinadores da história do futebol brasileiro. Ainda não é.
.
Veja: O nó da terceira via
https://bit.ly/35Q9UAn
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