24 abril 2022

Futebol em alto nível

Depois de ver o Liverpool, o City e Flamengo x Palmeiras, passei a gostar mais de futebol

Cada país, cada técnico, cada time e cada jogador tem suas particularidades
Tostão, Folha de S. Paulo

 

No meio de semana, passei a gostar um pouco mais de futebol, ao ver três ótimas partidas: a goleada do Liverpool por 4 a 0 sobre o rival Manchester United, a vitória por 3 a 0 do Manchester City sobre o Brighton e o empate em 0 a 0 entre Flamengo e Palmeiras.

Nesse empate, o Flamengo teve mais a bola, mas cada equipe teve três chances claras de gol, como informou, durante a transmissão, o narrador Gustavo Villani, da TV Globo. Mais importante que a posse de bola e o número de finalizações, mesmo no alvo, é o número de chances de gol, embora não seja uma informação exata, pois pode haver opiniões diferentes sobre o que é uma chance clara de gol. Uma equipe pode finalizar demais e não criar nenhuma oportunidade de gol, e também o contrário, ter inúmeras chances, sem finalizar.

Flamengo e Palmeiras jogaram melhor no primeiro do que no segundo tempo, por causa do cansaço decorrente da maneira de jogar, pressionando, e da falta de rotina de adotar essa marcação. O ser humano é um animal racional, que pensa e que vive de hábitos. É necessário treiná-los e repeti-los.

No mesmo dia, o Liverpool deu um baile no Manchester United. Thiago Alcântara deu, novamente, uma aula de passes precisos, bonitos e cheios de efeitos especiais. A fantasia pode caminhar junto com a eficiência. Não tem de ser uma coisa ou outra. Thiago foi aplaudido de pé, quando foi substituído, minutos antes de terminar o jogo, e ainda recebeu um fortíssimo abraço do técnico Klopp.

Mas o melhor do jogo, como já escreveu o mestre Juca Kfouri, com técnica jornalística e com ternura, foi ver toda a torcida do Liverpool cantar "You’ll Never Walk Alone", aos sete minutos de jogo, em solidariedade a Cristiano Ronaldo (CR7), por causa da perda, no parto, de um dos filhos gêmeos. Em Anfield, a emoção e a razão caminham juntos.

No dia seguinte, o Manchester City deu um show de futebol coletivo, com passes de pé em pé, desde a defesa, na vitória sobre o Brighton, por 3 a 0, e voltou à liderança do Campeonato Inglês, um ponto à frente do Liverpool. Outro meio-campista, De Bruyne, mais completo que Thiago Alcântara, foi novamente o destaque. Ele une o melhor de um meio-campista com o melhor de um meia-atacante.

O futebol tem evoluído. Há mais ou menos 15 anos, o Barcelona, comandado por Guardiola, revolucionou a maneira de jogar, com marcação por pressão e com troca de passes, características que se espalharam pelo mundo. Porém, cada país, cada técnico, cada time e cada jogador tem suas particularidades. Cada um faz de seu jeito.

O futebol brasileiro também tem melhorado, no individual e no coletivo, com a ajuda de novos treinadores, brasileiros e estrangeiros, mas, na média, ainda continua com muitas deficiências. Uma das razões da grande queda, durante décadas, foi a supervalorização dos lances individuais, dos artilheiros e dos dribladores e de um esquecimento do jogo coletivo e dos meio-campistas, representantes do passe e do domínio da bola e do jogo. O passe e o drible caminham juntos. Os heróis não são apenas os que empurram a bola para dentro do gol. A adoração pelo individual tem a ver com a desmedida ambição da sociedade brasileira.

Um dos dilemas do futebol é saber, nos grandes momentos, o que é mais importante, a técnica e os movimentos corporais ou a lucidez, a criatividade e a emoção. As possibilidades caminham juntas, como o corpo e a alma. Um não vive sem o outro.

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