18 abril 2022

Crônica do domingo

Milagroso bilhete na garrafa

Luciano Siqueira

 

 

Eu que pensava que bilhete em garrafa jogada ao mar não passava de imaginação literária e brincadeira de navegante eventual, sou levado hoje a dar o braço a torcer.

Seis náufragos de um barco que pegou fogo no norte do Pará foram resgatados por helicóptero da Marinha e estão devidamente aliviados em terra firme.

Eles — cinco homens e uma mulher — foram parar numa ilha de difícil sobrevivência, denominada Ilha das Flechas.

Apelaram para o bilhete na garrafinha e deu certo. 

Pescadores encontraram a dita cuja levaram a sério a mensagem nela contida.

Como diria o argentino Borges, a vida imitou a ficção.

E, de quebra, alimentou nesse modestíssimo escriba a ilusão renascida de que um dia alguém venha a encontrar a garrafa que deixou cair nos mares do Maranhão, no trajeto de São Luís a Alcântara, há uns quinze anos ou mais.

Já nem me lembro o que escrevi num pedaço de papel, que seguiu incluso na garrafa. Se não me engano, trecho de um poema de Drummond e o número do meu telefone.

Onde terá parado a garrafa? 

Talvez na costa da África portuguesa, o que facilitaria a compreensão da minha mensagem.

Porém pode ter ficado mesmo em terras maranhenses e algum nativo, ao perceber que se tratava de mensagem de temporário navegante pernambucano, sequer se interessou pelo contato.

Ou não gostava de poesia, quem sabe preferisse um palpite para o jogo de bicho. Ou uma oração, sei lá. 

Creio que ainda terei tempo de vida para em alto mar tentar novamente o bilhete numa aventureira garrafa de refrigerantes. Ou de cerveja long net.

No mínimo ganharei em troca o prazer da espera...

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