Ampla mobilização contra o feminicídio e toda
violência contra a mulher
Medidas efetivas devem ser
organizadas pelo governo e pelos setores representativos da sociedade
Editorial do ‘Vermelho”
www.vermelho.org.br
As manifestações em cerca de 90 cidades contra o aumento dos casos de feminicídio e outras formas de violência contra as mulheres, no domingo (7), são a expressão da busca histórica por justiça e erradicação de uma mazela social de raízes profundas.
Os atos ocorreram no curso da campanha “21 Dias de ativismo pelo fim da violência contra meninas e mulheres sob o tema UNA-se para acabar com a violência digital contra todas as mulheres e meninas, de 25 de novembro a 10 de dezembro de 2025, promovido pela ONU Mulheres. No Brasil são 21 dias por decisão do movimento de iniciar a jornada a partir do 20 de novembro, Dia da Consciência Negra
A campanha ocorre no 30º aniversário da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim – um dos acordos internacionais mais avançados sobre direitos das mulheres – e tem foco na violência digital, uma das formas de assédio que mais cresce. Informações registradas pela Base Nacional de Dados do Judiciário mostram que o Brasil ocupa o quinto lugar entre os mais violentos do mundo contra mulheres, segundo dados da ONU.
De acordo com a 11ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, do Data Senado 2025, 27% das mulheres brasileiras já sofreram violência doméstica ou familiar praticada por um homem. O Poder Judiciário brasileiro, em vias de divulgar as estatísticas para casos relacionados à violência contra a mulher prevê recordes neste ano. Até outubro, os dados sistematizados no Painel da Violência Doméstica do Conselho Nacional de Justiça revelam um crescimento progressivo nos registros de pedidos de medidas protetivas, feminicídios, entre outros casos de violência doméstica.
Mesmo com penas de reclusão de 20 a 40 anos, conforme define lei brasileira, o Brasil registrou mais de mil casos de feminicídio em 2025. O “Painel de Dados do Ligue 180”, lançado pelo governo federal em 7 de agosto para reforçar a transparência no enfrentamento à violência contra mulheres, mostra que a “Central de Atendimento à Mulher – ligue 180” registrou, de janeiro a julho, 594.118 atendimentos e 86.025 denúncias de violência.
As causas passam pela resistência à aplicação das leis e ausência de medidas preventivas, e chegam à estrutura da sociedade, com sua origem na perversa divisão do trabalho e nas responsabilidades familiares e domésticas impostas às mulheres. A bandeira da igualdade de gênero está na origem da luta pela emancipação do trabalho, que sofreu retrocessos com a crise das experiências socialistas e, sobretudo, com ascensão da direita e da extrema-direita.
No Brasil, a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, em março de 2003, no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi um marco importante, com implementação de políticas específicas e investimentos no combate às desigualdades de gênero.
O enfraquecimento da Secretaria, no contexto da crise política que levou ao golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, representou um revés, num momento em que avançava a misoginia de extrema-direita, com sua ideologia do ódio, da violência, acompanhado de uma criminosa disseminação de armas, transformada em política de governo pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro. Foi quando a Secretaria sofreu um esvaziamento, com redução drástica de orçamento.
Chama a atenção a escalada de crueldade nesse gênero de crime, fato que levou o presidente Lula a se pronunciar com indignação. “O que está acontecendo na cabeça desse animal que é tido como a espécie animal mais inteligente do planeta Terra para tanta violência?”, protestou ao conclamar esforço para conscientizar o país de que o homem não nasceu para ser violento.
No domingo, ele afirmou que o enfrentamento ao feminicídio é uma responsabilidade de toda a sociedade, “especialmente dos homens”. “Precisamos agir na causa, prevenir novos casos. Conscientizar, denunciar e garantir punição rigorosa para todos os agressores”, disse.
A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lúcia, afirmou que o Judiciário precisa atuar de forma urgente no enfrentamento da violência contra a mulher. “Para que a gente previna e acolha mulheres vulnerabilizadas, previna crimes praticados contra as mulheres, todos os tipos de violência. Por exemplo, se uma mulher é agredida e não tem um espaço de acolhimento, ela tem de voltar para casa e, às vezes, a agressão é maior”, afirmou.
A presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, também falou da crueldade contra as mulheres no ato de domingo em Brasília. “Precisamos garantir os elementos essenciais para a emancipação das mulheres, garantir sua autonomia é contribuir para sua segurança. E, mais do que nunca, precisamos mudar a cultura: se uma mulher é vítima de violência, todos nós temos, sim, o dever de meter a colher.”
O PCdoB propõe, de forma concreta, para enfrentar a violência de gênero, o fortalecimento das redes de proteção, ampliação de casas-abrigo, investimento em prevenção, responsabilização efetiva dos agressores e políticas públicas que garantam autonomia e direitos.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que “é hora de ocupar as ruas, de chamar amigas, amigos, familiares e conhecidos para somar força e mostrar que não aceitaremos mais o silêncio nem a impunidade”. “O número de feminicídio no Brasil é cada vais frequente, alarmante, cruel e covarde. O Brasil precisa se levantar, gritar bem alto pela vida das mulheres.”
Precisa, também, intensificar campanhas que levem ao sistema educacional valores como igualdade e respeito. Além de uma tomada de posição da sociedade para que esse assunto seja um debate permanente para forjar um sistemático comportamento de combate à violência contra as mulheres, por intermédio de suas entidades representativas, movimentos sociais e partidos políticos, exigindo inclusive da mídia o cumprimento de suas responsabilidades de concessionária do Estado e compromissos com o Estado Democrático de Direito.
[Se
comentar, identifique-se]
Leia também: Face cruel da opressão de gênero https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/violencia-contra-mulher.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário