Imagine dois exércitos poderosos em guerra aberta. Um confronto renhido, difícil de saber quem vencerá a quem. De repente, o Estado Maior do nosso exército é contatado pelo comando de um destacamento desgarrado do adversário, que manifesta a intenção de combater ao nosso lado, cerrando fileiras contra o inimigo comum. Que fazer? Grosso modo, há duas alternativas. Recusar o apoio e recomendar aos dissidentes que retornem às hostes adversárias e voltem a atirar contra nós mesmos; ou aceitar o apoio, mesmo sabendo que se trata de uma atitude temporária, circunstancial. A primeira alternativa é evidentemente burra, embora o sectarismo e a estreiteza de alguns vez por outra alimentem resistências. “Não podemos nos misturar a essa gente”, costumam dizer os que se opõem à diversificação das alianças. Como se em algum momento da história da Humanidade se possa identificar, na luta social, política ou militar, uma vitória expressiva e duradoura que tenha prescindido de manobras táticas destinadas a dividir as forças inimigas. (Lênin, o genial líder da primeira revolução socialista, entendia que as forças mais conseqüentes na luta pela transformação social deveriam, sempre e a cada instante, consolidar a unidade entre os aliados de confiança (aqueles com os quais há identidade programática), atrair todas as forças suscetíveis de serem atraídas e neutralizar, se possível, aquelas com as quais é impossível celebrar acordos, mesmo temporários e pontuais, e isolar o inimigo principal. Ou seja: não bastava lutar por ideais justos nem acumular certa força; era preciso alargar as bases de apoio social e político para ter condições de vencer.) Na atual disputa eleitoral, a segunda alternativa – aceitar o apoio de dissidentes do exército inimigo – vem à tona com força, seja em relação à frente de apoio à reeleição do presidente Lula, seja nas competições em plano estadual. Importa não dar ouvidos aos que enxergam quase nada além do próprio nariz e alargar o descortino, de maneira a combinar a firmeza de propósitos com a amplitude das alianças. Cada aliança implica naturalmente em compromissos – em alguns casos, fundados em considerações de ordem programática, em outros, de natureza apenas episódica, movidos por interesses imediatos e de curto prazo. Alguns dissidentes se juntam às nossas forças apenas pela intenção de derrotar seus antigos aliados, visando a batalhas futuras. Nada pedem além da oportunidade de guerrearem temporariamente ao nosso lado. Podem, entretanto, dar uma importante contribuição para o êxito de nossa empreitada. (Texto da coluna semanal no portal Vermelho www.vermelho.org.br, publicada toda quinta-feira). |
A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
13 julho 2006
Alianças mais do que necessárias
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