30 julho 2006

Pardal amigo, desculpe o desencontro

Uma semana inteira de cama, amigo. Sabe lá o que é isso para quem está habituado a ocupar-se os três expedientes, anos a fio, na lida com o sentido da vida e com as razões da luta! Só hoje deu para perceber que você esteve presente, à janela do escritório, ao final da tarde, afetuoso e breve. É que dominado pela virose inclemente, esse seu amigo ficou entre a rede e a cama, ora em mero devaneio, ora em tentativas (vãs) de ler algo útil – uma crônica, uma poema, uma informação relevante sobre nosso estimado Brasil. Nada. O vírus ataca o corpo e impede que a mente funcione. Por isso, foram raras as idas ao escritório. E, é forçoso confessar, se tivesse imaginado que você viria... pelo menos teria dado um sinal de que uma janela adiante encontraria o amigo, na varanda.

Sabe de uma coisa? Esse seu amigo andou pesquisando a seu respeito nas enciclopédias e descobriu, em verbetes específicos, que você é a mais familiar das aves, encontrando-se em todos os locais habitados por pessoas, no campo ou na cidade.

Apresenta dismorfismo sexual, tendo o macho tons castanhos mais escuros e a fêmea uma lista supraciliar clara. O macho distingue-se ainda da fêmea por uma coroa cor de chocolate e um bibe preto que se alarga pelo peito. (Observador incompetente, seu amigo ainda não percebeu se você é macho ou fêmea, desculpe a franqueza).

Costuma formar grandes bandos, que podem atingir as 500 unidades. (Se você aparece sempre só, será um desgarrado do bando?).

Mede entre 14 e 15 cm e alimenta-se de restos de comida, de sementes e de insetos. Reproduz-se em fendas de edifícios ou em buracos de árvores. Põe 3 a 5 ovos cinzentos manchados, que são incubados sobretudo pela fêmea, durante 11/14 dias. (Que vem fazer aqui em nosso prédio, além de visitar esse amigo? Buscar alimento? Procriar?).

Bem, você vem veio e saiu de repente, como sempre. Parecia querer cantar um verso da Serenata do Adeus, de Vinícius

Ai, vontade de ficar, mas tenho de ir embora.

De agora em diante, serão raras as vezes que contrará esse seu seu amigo no escritório, em fim de tarde. Quem sabe nos vejamos se você mudar de hábito. Entre 5 e 5,30 da manhã, sim; ou depois da caminhada matinal, das 7 em diante. Se a campanha permitir. Venha que nos comunicaremos sempre através de versos dos bons poetas – aqueles que nos ajudam a viver e a lutar com coragem e leveza.

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