27 março 2007

Na página de Opinião do Jornal do Commercio

A peculiaridade do Partido Comunista

Luciano Siqueira*

Somos ainda um jovem país, um povo em formação. Natural, portanto, que nossas instituições - como os partidos políticos - careçam da solidez observada em outras terras.

Como bem observa Afonso Arinos de Melo Franco em seu estudo “História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil”, nossa tradição sempre foi de partidos conjunturais, efêmeros e pouco apegados a compromissos programáticos. E com forte influência regional.

Assim foi no Império, na República Velha e após a Revolução de 30. Prosseguiu no período iniciado com a Redemocratização, em 1946, até o golpe militar de 1964. Perdura nos dias atuais.

As elites brasileiras, donas de invulgar capacidade de se preservarem no poder, alternando expedientes autoritários e habilidade política, jamais construíram agremiações partidárias longevas, como ocorre, por exemplo, no vizinho Uruguai, que conta com partidos centenários.

Hoje, emblematicamente, um grande partido conservador, o PFL, caminha para a mudança de nome, de sigla e de programa.

O fenômeno ainda carece de estudos mais acurados. Provavelmente está relacionado com a forte influência do fator regional. O país, imenso e palmilhado por complexa gama de distorções sociais, exibe uma grande diversidade regional, que se reflete na economia, na cultura e também na política.

O regionalismo sempre foi muito forte no ambiente partidário. Mesmo quando os partidos passaram a cumprir a exigência constitucional imposta em 1967 pelo regime militar, de se estruturarem nacionalmente, não perderam a feição de conglomerado de grupos locais. É comum secções regionais de grandes partidos adotarem postura dissidente no estado, contrariando a orientação nacional. A exemplo do PSDB da Bahia, que no último pleito apoiou para o governo do estado o petista Jacques Wagner.

Nesse contexto, constitui-se uma notável particularidade a do Partido Comunista do Brasil. Fundado em 1922, completou no último domingo 85 anos de existência e de atividade ininterrupta.

O PCdoB (sigla adotada em substituição à da de sua fundação - PCB -, em meio a um conflito interno que levou ao surgimento da facção denominada Partido Comunista Brasileiro, que ficou com a sigla original), viveu 60 dos seus 85 anos condenado à ilegalidade, alvo de perseguições e preconceitos. No entanto, foi capaz de resistir e de se renovar, sem contudo renegar sua base teórica marxista-leninista. Por isso, comemora oito décadas e meia de vida na condição de partícipe ativo e influente da cena política nacional, reconhecido e respeitado na sociedade brasileira e internacionalmente.
* Vice-Prefeito do Recife, membro da direção nacional do Partido Comunista do Brasil-PCdoB.

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