23 maio 2007

Nosso artigo de toda quarta-feira no Blog de Jamildo (ex-Blog do JC)

A classe média ainda não foi ao paraíso

Tirantes avaliações críticas e humores mais ou menos otimistas, o fato inequívoco é que a economia do país volta a crescer – menos por mérito próprio, embora eles existam, em certa medida, e mais pelo ambiente internacional favorável.

Quem se beneficia com o reaquecimento da economia? Paradoxalmente, hoje, beneficiam-se parte da elite dominante e uma ampla parcela da população mais pobre. Uma faixa intermediária, que se convencionou chamar de classe média, essa continua sofrendo as agruras das mais de duas décadas de estagnação econômica.

Acontece que os mais ricos hoje, no Brasil, situam-se em torno de 15 mil famílias que respondem por 80% dos títulos públicos federais, segundo avalia o professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Márcio Pochmann.

Pochmann e outros vinte pesquisadores paulistas estudam a desigualdade social do ponto de vista dos ricos e da acumulação de riqueza – sem desconhecer os indicadores sociais. Ou seja, eles levam em consideração não apenas o fluxo da renda, mas também o estoque de riqueza. Por aí, vêm demonstrando a crescente polarização da sociedade brasileira entre essa minoria de muitos ricos e a grande maioria de muito pobres.

Acontece que na atualidade, sob o governo Lula, com os primeiros sinais de recuperação das atividades econômicas e o êxito dos programas sociais compensatórios – como o Bolsa Família, o Pronaf e outros -, de expressiva cobertura, tem havido uma redução relativa da pobreza, inclusive com o ingresso de parcelas significativas dos menos aquinhoados no mercado consumidor.

Mas um há detalhe de grande importância: a situação da chamada classe média não tem se alterado no essencial. Esse segmento, em nosso país foi construído basicamente entre os anos 30 e os anos 80, na esteira do crescimento e da diversificação da economia, como detentores de bom padrão de renda, embora não proprietária de bens. É uma extensa parcela da população assalariada, diretamente atingida pela retração do mercado de trabalho e pela diminuição da massa salarial.

A atual recuperação da economia, incipiente, ainda não ofereceu à classe média as oportunidades de que está carecendo.

Disso decorrem um desafio e um risco. O desafio está em gerar emprego e melhoria de renda para esse segmento social que, além da sua importância econômica propriamente dita, constitui base social e política influente, que tanto oscila para a direita como para esquerda, conforme a situação.

O risco está exatamente na perda de poder aquisitivo e de paciência desse segmento, podendo vir a lastrear a oposição à direita num esforço de resistência ao novo projeto de desenvolvimento que o governo esboça.

Se a classe média não for ao paraíso, pode ajudar a fazer o inferno.

Com a palavra a equipe econômica do governo. E os estrategistas políticos.
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