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1817, marco da nacionalidade
Luciano Siqueira
As comemorações da Revolução Pernambucana de 1817, que ocorrem nesta quinta-feira, 6, no Recife, em Olinda e outros lugares, nos remetem aos rastros da construção do que somos hoje, como povo e Nação, vincados em nossa terra ao longo de cinco séculos de lutas.
Aqui ocorreram insurreições libertárias, de sentido popular, emancipacionista e republicano. Aqui foram realizados ensaios marcantes de frentes políticas e sociais, que agregaram muitas vezes segmentos de classe contraditórios em seus interesses, porém capazes de se unirem em torno do objetivo maior imediato. Aqui muitos dos que ousaram se alevantar pelos seus ideais experimentaram a repressão mais sangrenta, imposta pelo poder imperial. Aqui se forjou o sentimento de pernambucanidade, que no dizer de Manuel Correia de Andrade, geógrafo e historiador, “não é uma formação linear, ela é dialética”, presente no momento da invasão portuguesa (século XVI), na luta de Duarte Coelho Pereira, convencido da necessidade de construir uma nação; na reação do indígena, defendendo as suas terras e a sua cultura da ambição de conquista do invasor; no século seguinte quando o holandês procurava conquistar as terras do açúcar e que teve em Nassau o grande estadista que procurava integrar duas sociedades que se hostilizavam; no heroísmo de um Matias de Albuquerque, defendendo a Capitania contra a invasão batava, e nos heróis da Insurreição, quando procuravam expulsar o invasor.
Pernambucanidade presente na Revolução de 1817- uma insurreição de sentido popular, nacional e republicano. Avançada no conteúdo e na forma. Sangrenta na repressão imperial que a abateu. Insurgente contra impostos considerados escorchantes, cobrados sobre a exportação do açúcar, tabaco e couros, como meio de custear as despesas de instalação de obras públicas e com a burocracia estatal nascente, no Rio e Janeiro, onde permanecia a família real. Contra a forma arbitrária como se faziam os recrutamentos e se exigiam as contribuições para prover os custos decorrentes das guerras na Guiana e no Prata (numa fase crítica da produção do açúcar e do algodão, afetada pela seca de 1816). Influenciada pela Revolução Francesa e pela Independência dos Estados Unidos. Ousada ao proclamar o poder republicano, autônomo e independente em relação à Coroa, e ao constituir um governo de coalizão social, integrado por Domingos Teotônio Jorge (representando os militares), Padre João Ribeiro (Igreja), Domingos José Martins (comerciantes), José Luís Mendonça (Judiciário) e Manuel Correia de Araújo (representando os proprietários de terras).
Duraria apenas 75 dias, sufocada pelas tropas imperiais, tendo seus líderes presos e executados. Mas ficaria para sempre como marco da pernambucanidade - esse jeito pernambucano de defender a nacionalidade.
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