Quem tem medo da ética?
Luciano Siqueira
Ano novo, vida nova – o jargão, presente em nossas vidas desde sempre, bem que pode inspirar uma breve reflexão em tempo de férias...
É que esse amigo de vocês não tirava férias completas há oito anos, desde que em janeiro de 2001 se iniciou o ciclo dos dois governos de que tive a honra de participar, como vice-prefeito, ao lado de João Paulo, no Recife. Agora, como a Câmara Municipal só inicia suas atividades em 1 de fevereiro, eis que a oportunidade se apresenta para uma “pré-temporada” (como fazem os times de futebol) preparatória da nova missão.
Pois bem. Zanzando pelo litoral de Pernambuco e estados visinhos, mas sem perder de vista o que acontece no mundo e na província, ocorre-me a relevância cada vez maior da variável ética em todas as esferas da vida, na prática política em particular. Está na ordem do dia e na cabeça das pessoas –nem sempre colocada em termos adequados, há que se reconhecer.
A Ética é uma construção humana, cujo conteúdo vem evoluindo ao longo da História – de um conceito meramente abstrato, desconectado da vida material, a um valor de concretude percebida e vivenciada no cotidiano das pessoas. É uma projeção do que seria a vida ideal, um conjunto de referências, em diferentes sociedades e civilizações, tomadas como padrão para julgar idéias, atitudes e fatos conforme lhes sejam benéficos ou não. É por isso que, como já assinalava Engels no século dezenove, a Ética tem sentido de classe, uma vez que “a justiça dos gregos e dos romanos sustentava que a escravidão era justa. A justiça da burguesia de 1789 reclamou e impulsionou a abolição do feudalismo porque o considerava injusto... A concepção da justiça eterna varia, assim, não só segundo o tempo e o lugar, mas também segundo as pessoas que a julgam.”
Atualmente em nosso país, em meio a tantas denúncias (procedentes ou não), revelações embaraçosas, prisões e processos contra quem confunde o público com o privado no exercício de responsabilidades institucionais, a palavra “ética” vem sendo pronunciada como nunca pelos brasileiros. No exame de grandes acontecimentos ou de fatos e atitudes do dia a dia. E se constitui numa espécie de crivo espontâneo na formação da opinião sobre pessoas e instituições.
Assim, lealdade, respeito às diferenças, lisura no uso de recursos públicos, transparência perante a opinião pública, clareza de propósitos, etc. (a lista pode se alargar mais ainda) compõem o rol de exigências tidas como éticas às quais em princípio todos estão submetidos.
Rebaixamento conceitual? Creio que não. Rigor teórico à parte, isto significa, antes de tudo, a elevação do que se tem chamado consciência cidadã. Bom para quem se comporta corretamente; melhor ainda para o progresso das relações políticas na sociedade; e péssimo para os que teimam em agir à margem dos princípios elementares da boa convivência humana.
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