22 julho 2009

Os desafios da escola pública

No Acerto de Contas, por Antonieta Trindade*:
O prazer de sermos reconhecidos por nossos alunos


A cada três anos a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) avalia o desempenho dos estudantes em leitura,matemática e ciências, através do Programa Internacional de Avaliação de Alunos(PISA).Os resultados têm demonstrado as feridas não cicatrizadas pelas políticas educacionais implantadas no país:em dezembro de 2007, o Brasil ocupava a 52ª posição em uma lista de 57 países avaliados, mesmo com todo esforço desenvolvido nos últimos anos.

Para aquela parcela da população que habita o paraíso do senso comum, que por sinal é até bem confortável, a responsabilidade reside na incapacidade profissional dos professores, na falta de dedicação e até mesmo no excesso de faltas e de greves. Santa ingenuidade!

O modelo educacional consolidado desde o processo de colonização sempre se pautou pela exclusão e pela negação do direito ao conhecimento. Os índios, os negros e as classes populares foram sempre vitimados pela relação utilitária estabelecida pelas elites nacionais. Não é à toa que só em 1930 foi criado o Ministério da Educação e que a constituição de 1937 previa que o ensino técnico era destinado às classes desfavorecidas mas não possibilitava o acesso ao ensino superior.
Entretanto, não podemos negar o processo de expansão da educação pública, que abriga nos dias atuais 87% das vagas da educação básica, e a universalização do ensino fundamental, com 97% das crianças freqüentando a escola. Poderíamos agora afirmar que ingressamos no período de socialização do conhecimento?

Infelizmente, não. A expansão da educação pública, realizada dentro da mesma concepção de negação do direito ao conhecimento, concebeu uma escola que deveria garantir o saber mínimo, combinado com alguma assistência social que amenizasse as conseqüências dolorosas da concentração de renda no país, e demandou uma ampliação do quadro de profissionais da educação que se desenvolveu através do sacrifício dos professores.

A possibilidade de acumulação de cargos, garantida constitucionalmente, nada mais é que a constatação que para esses profissionais o recebimento de salários compatíveis com a sua formação profissional só será viável com a adesão a jornadas exaustivas de trabalho, e com a aceitação do argumento unilateral de que a quantidade de trabalhadores será sempre um impedimento para a valorização profissional. Quem sabe uma versão moderna do sacerdócio propagada na educação em tempos passados?

A falência desse modelo de escola pública passou a motivar alguns setores do empresariado a apresentar aos governantes alternativas para solucionar a crise. Fundações e Institutos empresariais foram criados para socorrer a educação. Novos métodos? Sem contrapartida dos governos? Estruturados sob que concepção? Porém, com uma convicção explicitada de que o professor é o culpado e de que é preciso aplicar todas as regras de controle possíveis para melhorar a sua produtividade.

Quem nunca conheceu a realidade de lecionar em salas lotadas, sendo pressionado a garantir o que a família e o Estado não asseguraram para nossas crianças e nossa juventude, com dez, quinze aulas por dia, planejamentos diversos, uma pilha de cadernetas, pode até achar que o professor é um estorvo para a melhoria da escola pública. Afinal de contas, como diz a canção de Chico Buarque, a dor da gente não sai no jornal. Mas, o prazer de sermos reconhecidos e valorizados por nossos alunos, ninguém, por mais poder que acumule, conseguirá retirar de nós.
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* Antonieta Trindade é Professora da rede estadual de ensino desde 1981, é atualmente vice-presidente do SINTEPE e Secretária Adjunta de Assuntos Educacionais da Cnte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente, a companheira é demais...Mas.quero que o Sr.Luciano Siqueira apareça em nossas assembleias,apoi ou não à nossa categoria de professores(as).É isto que esperamos dos nossos "políticos".Espero a sua resposta,porque nunca somos atendidas.Saudações.Janete Costa.