Essência verde-amarela do novo programa do PCdoB
Luciano Siqueira
“Vejam só, os comunistas desejam implantar no Brasil um regime cubano!”, escutei um comentarista da Rádio CBN afirmar outro dia a propósito do que considera uma utopia (sic) irrealizável em nossa terra.
No comentário do petulante e falso analista um grande equívoco alimentado por primária ignorância. Como pode alguém imaginar a experiência de sociedade da ilha caribenha copiada num país de dimensões continentais como o nosso? Coisas desse naipe dizem os arautos da ordem vigente há muito tempo. Por desconhecimento ou por má fé mesmo.
Mas o fato é que o partido dos comunistas, o PCdoB, sempre perseguiu uma proposta de socialismo que correspondesse à realidade brasileira – mesmo quando ainda envolto nas armadilhas do dogmatismo e do mecanicismo teórico e, portanto, sem sucesso. Percorreu áspero e tortuoso caminho nesse sentido. E pôde alcançar consistência no trato da questão sobretudo a partir do seu 7º. Congresso, realizado em maio de 1988, em plena crise da teoria marxista. Desde então, tem consolidado a compreensão definitiva de que a alternativa de transformação da sociedade brasileira há que ser, irrecusavelmente, brasileira.
Isto decorre de uma lição essencial extraída das experiências ocorridas em outros países, que se equivocaram na suposta premissa de que o “modelo” adotado na Rússia e posteriormente na ex-URSS serviria de referência a outros povos e países. As democracias populares erigidas no Leste da Europa cometeram esse pecado. E se deram mal. A China, assim como o Vietnã, não; assumiram uma via consonante com as suas próprias peculiaridades históricas, econômicas, sociais e culturais. Por isso estão indo adiante.
Na atual proposta de programa submetida a debate no 12º. Congresso do PCdoB, essa compreensão é reafirmada em toda a inteireza. Assinala como premissa teórica que a concepção de um modelo único de socialismo revelou-se errada e anticientífica. E que a construção do socialismo deve obedecer à singularidade de cada país, suas feições próprias, o nível de acumulação dos fatores políticos e sócio-econômicos necessários e a sua inserção na economia e na geopolítica mundial.
Isto quer dizer que o socialismo no Brasil terá o cheiro do nosso barro, a sonoridade do samba, do frevo, do maracatu, do carimbó, a paixão do nosso futebol e, sobretudo, a inventividade e a capacidade de trabalho do nosso povo.
O novo Programa do PCdoB assume, portanto, definitiva e plenamente, matiz verde-amarelo. Só serve para o Brasil e não copia “modelo” de parte alguma. Isso jamais o comentarista da CBN conseguirá entender – nem precisa.
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