29 agosto 2009

O gesto atabalhoado do senador Suplicy

No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
O cartão vermelho

O senador Eduardo Suplicy proferiu, nessa terça-feira passada, um discurso tão desnorteado que provavelmente deve estar amargando um grande arrependimento ou o nível de sensatez política caiu abaixo de zero.

Uma semana após o julgamento e arquivamento das representações contra José Sarney, também com o voto do Partido dos Trabalhadores, o ilustre senador foi à tribuna e pediu a renúncia do presidente do Senado Federal.

Do ponto de vista político é uma atitude lamentável sob vários aspectos. Foi uma clara tentativa de estratégia publicitária destituída de qualquer pudor porque ele próprio não se rebelou, no devido momento, contra o desenlace da votação.

Não sendo um episódio rotineiro, mas um grave confronto entre as bancadas do governo e da oposição, Suplicy tinha que adotar uma postura de divergência aberta contra o presidente da República e mesmo contra o seu partido, ou aguentar as consequências, ficar calado e seguir a orientação do PT.

Não fez uma coisa, nem a outra. Tentou ficar bem com o governo, com o presidente Lula, com a grande mídia adversária e com a oposição ao mesmo tempo. Poderia ao menos alegar uma autocrítica das suas posições anteriores, o que não aconteceu. Daí todos concluem, parlamentares dos vários matizes ideológicos, mídia em geral e a opinião pública, que ele cometeu o desatinado discurso de maneira fria e premeditada, utilizando-se do velho chavão popular: uma no cravo e outra na ferradura.

E a arma foi o bizarro e imenso cartão vermelho sacado contra o presidente Sarney e o senador oposicionista Heráclito Fortes, que por sua vez fez um aparte demolidor contra o senador por São Paulo.

Demolidor porque com tal manobra política todos os flancos de qualquer cidadão ficam literalmente desguarnecidos. Quando se é governo, consciente dos seus propósitos, aufere-se o bônus da situação e prepara-se o lombo para as chicotadas da oposição. E é necessário estar bastante convencido, armado mesmo de argumentos para o combate feroz, igual ao que vem sendo travado nos dias atuais.

O que não exclui os princípios, o pensamento crítico e a independência que devem nortear o ativista político.Mas o grande problema é que o senador Suplicy meteu-se em um conhecido dilema shakespeariano mal formulado: ser e não ser, como fazer? E para semelhante teorema político não há uma resposta convincente.

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