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O enigma Marina Silva
O destino da senadora Marina Silva, que anunciou a saída do PT para uma eventual candidatura, pelo PV, à sucessão do presidente Lula, ainda não está claro. A mídia, entretanto, já busca medir seu potencial eleitoral que, na última pesquisa Datafolha, é de 3% das preferências, sobretudo entre os eleitores mais ricos. Mas é cedo para uma avaliação mais precisa, mesmo porque a própria senadora ainda não confirmou sua candidatura, apesar de sinalizar que seguirá esse rumo.
Sua trajetória não pode ser comparada com a de Heloísa Helena, que terminou a disputa presidencial de 2006 em terceiro lugar, com cerca de 6% dos votos; ou com Cristovam Buarque, que ficou com pouco mais de 3% na mesma eleição. Há semelhanças, mas também muitas diferenças entre estes três ex-petistas. Cristovam e Heloisa disputaram a eleição contra Lula; Marina poderá encarnar a anti-Dilma, o que faz uma diferença enorme. Os dois primeiros fizeram uma oposição ao governo pela esquerda. Marina até agora não disse qual será seu caminho. As dúvidas sobre o projeto político que defenderá, que tipo de eleitor vai buscar e a que forças irá se aliar, ainda estão no ar.
Uma avaliação mais cuidadosa da candidatura depende de respostas a algumas questões cruciais. Marina tem compromissos históricos, e notórios, com a agenda ambientalista. Até que ponto vai equilibrá-los com a defesa, necessária, de novo projeto nacional de desenvolvimento? Conseguirá não decepcionar os ambientalistas mais radicais e os santuaristas de plantão? Conseguirá refundar o PV, dando-lhe um conteúdo programático exequível? E conseguirá o PV costurar alianças que garantam estatura a sua campanha? Que tipo de aliança vai privilegiar no primeiro e no segundo turnos? Pela esquerda ou pela direita? Se a segunda hipótese se concretizar, vai dividir o palanque com demos e tucanos, esquecendo seus trinta anos de militância de esquerda? Como vai tratar José Serra: parceiro ou adversário? Aceitará apresentar-se uma anti-Dilma?
Marina é religiosa e, como religiosa, é contra o aborto, a Lei de Biosegurança, e já demonstrou simpatia pela atrasada tese do criacionismo. Ela irá buscar o voto dos crentes com um discurso conservador? Quais as bandeiras políticas, econômicas e sociais do atual governo que irá defender e com quais vai romper? Na hipótese de alcançar a presidência da República, com quais forças políticas irá compor para garantir a governabilidade? Que tipo de relacionamento manterá com os meios de comunicação? Ficará refém deles ou se rebelará contra a agenda neoliberal, conservadora e excludente da mídia hegemônica?
A clareza sobre o tipo de peça que Marina Silva representará no xadrez eleitoral de 2010 depende das respostas a questões como estas. É um enigma cuja solução está entre a mente e o coração da possível candidata, o entusiasmo que demos, tucanos e a mídia conservadora manifestam por sua candidatura, e a trajetória de trinta anos de militância no campo progressista da ex-ministra do Meio Ambiente.
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