11 outubro 2009

Artigo semanal no site da revista Algomais

Entre a ciranda financeira e a produção
Luciano Siqueira


Há males que vêm para o bem. Quem não ouviu isso desde a infância, pela voz dos mais experientes como que a nos consolar diante de uma situação adversa? Por bem, no ambiente de crise e de superação dela (no Brasil), tem gente repetindo o adágio popular de outra forma: há crises que vêm para o bem...

Que toda crise traz em si a possibilidade de superação de uma determinada situação cujos conflitos interiores se acumularam ao longo do tempo e agora explodem em plenitude, essa é uma verdade comprovada cientificamente – no mundo material e na sociedade humana. Vale para a vida social e vale para cada indivíduo. O desafio é compreender as causas fundamentais da crise e explorá-las no sentido de se alcançar um passo adiante, superando-a.

Feita essa digressão, voltemos aos possíveis efeitos benéficos da crise global sobre o nosso país – que podem ser avaliados sob diversos aspectos. Um, evidente, conforme os indicadores econômicos disponíveis, é que o caminho escolhido pelo governo Lula para enfrentar as ameaças externas – apoiado fundamentalmente nas potencialidades do próprio país – deu certo. Estima-se que o PIB possa crescer até 5% em 2010 – o que, no quadro atual de retração econômica mundial, será um diferencial importante.

O Brasil sai da crise fortalecido, inclusive como nação soberana e disposta a jogar o duro jogo da economia globalizada com altivez, ao contrário do que ocorria antes, nos tempos em que quem dava as cartas era o FMI e os chamados credores internacionais de nossa dívida externa.

Mas há outra variável a considerar. Mesmo que o sistema bancário brasileiro tenha sobrevivido, sem a débâcle que envolveu muitos grandes bancos nos países mais desenvolvidos, o fato é que a esfera financeira perdeu, digamos, força e encanto relativos, em favor da esfera produtiva. Em maio último, o economista Sérgio Mendonça, coordenador da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), chegou a expressar essa tendência com extremado otimismo: “O trabalho voltou a ter voz depois que tudo ruiu. O desmonte dessa parafernália financeira que o mundo estava vivendo abre uma agenda, no mínimo, interessante sobre a inclusão, o acesso ao emprego e a novas políticas fiscais e tributárias com o objetivo de taxar mais os mais ricos e de distribuir renda.“

Pontos para uma agenda pós-crise a ser considerada num novo pacto político que possa emergir das eleições gerais do ano vindouro.

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