17 outubro 2009

Multiculturalismo em baixa

No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Os politicamente incorretos

Quando em seu recente livro, Démetrio Magnoli, sociólogo e doutor em geografia humana, declara que no fim das contas os arautos do multiculturalismo estão dizendo que o Brasil fracassou historicamente como nação e deve começar de novo, reinventando-se desde o início, pelo cancelamento do mito de origem da confluência dos rios, ou da mestiçagem, ele está fazendo um diagnóstico certeiro sobre as concepções equivocadas do multiculturalismo em sua versão brasileira.

Esse conjunto de idéias, pelo poderoso incentivo e investimento que recebe de governos ou organizações não governamentais, o que quase sempre dá no mesmo, transformou-se em uma doutrina de múltiplas faces que ganhou nos últimos doze anos o carimbo de verdade incontestável, de tudo aquilo que recebe o apelido de questões politicamente corretas.

Além do mais, é pela sua origem e objetivos, divulgada, ou melhor, bombardeada à exaustão, através da grande mídia que monopoliza a informação e as idéias que lhe interessa, de tal maneira que aquilo que deveria ser notícia passa a ser campanha ideológica.

Procura-se induzir a idéia de que aquele que não concorda com determinadas “verdades” massificadas como definitivas é condenado à condição de politicamente incorreto. E até em certas correntes de pensamento cuja essência ou razão de existir sempre foi o sentimento da rebeldia, passam a assimilar, inadvertidamente, os conceitos multiculturalistas.

O debate sobre essa doutrina disciplinadora de concepções e costumes não é algo periférico ou de alguns diletantes acadêmicos. Encontra-se no centro da discussão sobre qual o projeto nacional e popular que interessa ao povo brasileiro. Na visão dos mais radicais dessa fórmula engendrada em laboratório, não há em verdade o povo brasileiro, não há mestiçagem e se eventualmente ela existe, trata-se de uma doença social a ser combatida ou revertida.

Falta, porém, corrigir o próprio povo brasileiro que na última e recente pesquisa do IBGE declarou-se em mais de 80% mestiço e bem mais mestiço que na penúltima pesquisa do referido instituto. O multiculturalismo também se estende por várias outras questões bastante sensíveis e de alta relevância à integridade e à soberania do País.

As políticas multiculturais continuam recebendo a chancela de orientações institucionais a nível federal sem jamais galvanizar os sentimentos da esmagadora maioria da nação, ao que parece politicamente incorreta.

Um comentário:

Edson Martins disse...

Olá Luciano,

Assim como a ideia de posmodernidade, a de multicultutalismo é das mais controversas...aliás as duas ideias são irmãs de um casamento mal sucedido entre Estado e o Capital, sacramentado pela putrefata modernidade.
Abraços!