30 janeiro 2013

Crescimento com inclusão

Bolo ainda insuficiente, porém compartilhado
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Acabou aquela conversa, com ares de teoria, do tempo da ditadura militar e da era FHC, de que seria necessário primeiro crescer o bolo para depois dividi-lo. Era para justificar a imensa concentração de riqueza e renda (e o consequente empobrecimento dos que vivem do trabalho), marcas do nosso capitalismo dependente e precocemente monopolizado.

Ontem a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, dirigindo-se à plateia do Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas, em Brasília, foi taxativa: “Pela primeira vez, a gente divide o bolo ao mesmo tempo em que está crescendo. A América Latina está fazendo esse movimento e tem sido olhada por todos os lugares do mundo”. E é verdade. Podemos dizer que é um fenômeno novo, aqui na latino-américa, em contraste com as políticas de contenção de investimentos, regressão de direitos e desemprego que se pratica na Europa em crise.

A ministra mata a cobra e mostra o pau. O PIB per capita passou de R$ 16,5 mil a R$ 21,3 mil entre 2001 e 2011, acelerando-se nos últimos oito anos.

E se verificarmos o Índice de Gini, praticado pelo IBGE, que mede o grau de concentração de renda, teremos que caiu 0,553 para 0,500. Ou seja, distanciou-se um pouco de 1 e, portanto, revelou menor concentração.

Essa foi uma das vertentes da ação do governo Lula (e que continua com Dilma) para enfrentar os efeitos da crise global sobre a economia brasileira. Desoneração fiscal de segmentos industriais, para manter o nível do emprego, ampliação do crédito e estímulo ao consumo se somam à ousada política de redução de juros. Daí que mesmo em 2012, quando o PIB não ultrapassou 1%, nos mantivemos num padrão tecnicamente considerado pleno emprego.

O bolo até que tem crescido – mas não o suficiente. E seus frutos, compartilhados gradativamente por amplas parcelas da população – mas ainda aquém das verdadeiras necessidades do povo brasileiro. Importa avançar a passos consistentes e rápidos, para assegurar a sustentabilidade do crescimento com inclusão social.

Para tanto, urge corrigir a relação PIB/investimentos. Países como a China, que crescem a taxas elevadas, conseguem investir em torno de 40 por cento do PIB. No Brasil, mal chegamos a 19%. É preciso atingir pelo menos 25% em curto prazo. Isso em proveito da retomada do desenvolvimento industrial e do revigoramento da infraestrutura. Reduzir os custos da produção com medidas como a recentemente adotada em relação ao preço da energia. Incrementar a inovação tecnológica para modernizar e aumentar a produtividade do parque industrial.

O fato é que a ministra tem boa dose de razão – como os fatos comprovam; e é bom que ela assim se pronuncie e que os brasileiros e brasileiras sinceramente interessados no progresso do País com soberania e inserção produtiva da maioria aprofundemos o tema que, afinal, se impõe no debate de ideias.

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