Gilson Edmar Gonçalves e Silva
gilson.edmar@ufpe.br
Publicado no Jornal do Commercio
Uma
despedida pode se tornar um ato prazeroso ou doloroso para quem fica, para quem
parte ou para ambos, dependendo do contexto no qual está inserida. Geralmente
provoca reações emocionais nas pessoas envolvidas.
Estou
prestes a romper meu elo com a UFPE. Não é voluntário, mas compulsório, em
decorrência de uma legislação que tira pessoas das suas atividades ainda numa
fase produtiva, do ponto de vista intelectual e físico. É lamentável que a
legislação não acompanhe o ritmo das transformações. A expectativa de vida da
população aumentou em todo o mundo, mas as leis continuam estáticas. Não é
argumento válido dizer que é necessário alguns saírem para outros ocuparem seus
lugares. Podem conviver harmonicamente gerações distintas, cada uma
contribuindo com seus conhecimentos e experiências com o objetivo de construir
algo melhor para todos. São inúmeros exemplos de jovens geniais e de idosos
competentes nas suas áreas de atuação.
Toda
a minha vida acadêmica foi praticamente na UFPE. Lá cheguei adolescente, aos 17
anos, para me submeter ao exame vestibular e ingressar no curso de medicina. A
minha universidade me fez médico, com a sua graduação e neurologista, com a sua
residência. Enviou-me a Marseilha (França) para o meu mestrado; a São Paulo
(Unifesp), para o meu doutorado; e para Bolonha (Itália), para o meu
pós-doutorado.
Durante
todo este tempo, tive o privilégio de conviver com seus grandes mestres da
medicina, da neurologia e da vida. Foram lições técnicas, humanas e éticas, que
me acompanham por toda a minha trajetória acadêmica e profissional.
Seria
preciso retribuir tudo isto. Assim, tentei dar um pouco de mim como professor,
chefe do meu Departamento de Neuro-Psiquiatria. Participei com um
extraordinário grupo da criação do Simpósio sobre o Cérebro. Implantei a
pós-graduação em neuro-psiquiatria, tendo sido seu primeiro coordenador.
Contribui com a administração da UFPE como diretor do Centro de Ciências da
Saúde e como vice-reitor, ambas as funções em dois mandatos sucessivos.
Antes
que a saída se concretize, quero transmitir a todos uma declaração de amor à
minha UFPE e enviar um abraço fraterno a todos que conviveram comigo, nas
convergências e nas divergências, praticando uma plena democracia. Tenho
certeza que a minha despedida será prazerosa, pois ela é plena de boas
recordações e espero, para o futuro, ver a instituição cada vez mais alta no
patamar das grandes universidades.
Ao
sair da UFPE, sinto uma sensação de vazio, mas com a esperança de construir um
novo ciclo na minha vida. Ainda não sei como farei de um modo mais amplo. Mas,
com certeza, continuarei a praticar a medicina, pois médico jamais deixei de
ser, e a exercer as especialidades de neurologia, epileptologia e
neurofisiologia clínica, minhas paixões.
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