08 janeiro 2013

Palavra certeira e emocionada

Uma despedida
Gilson Edmar Gonçalves e Silva
gilson.edmar@ufpe.br

Publicado no Jornal do Commercio

Uma despedida pode se tornar um ato prazeroso ou doloroso para quem fica, para quem parte ou para ambos, dependendo do contexto no qual está inserida. Geralmente provoca reações emocionais nas pessoas envolvidas.

Estou prestes a romper meu elo com a UFPE. Não é voluntário, mas compulsório, em decorrência de uma legislação que tira pessoas das suas atividades ainda numa fase produtiva, do ponto de vista intelectual e físico. É lamentável que a legislação não acompanhe o ritmo das transformações. A expectativa de vida da população aumentou em todo o mundo, mas as leis continuam estáticas. Não é argumento válido dizer que é necessário alguns saírem para outros ocuparem seus lugares. Podem conviver harmonicamente gerações distintas, cada uma contribuindo com seus conhecimentos e experiências com o objetivo de construir algo melhor para todos. São inúmeros exemplos de jovens geniais e de idosos competentes nas suas áreas de atuação.

Toda a minha vida acadêmica foi praticamente na UFPE. Lá cheguei adolescente, aos 17 anos, para me submeter ao exame vestibular e ingressar no curso de medicina. A minha universidade me fez médico, com a sua graduação e neurologista, com a sua residência. Enviou-me a Marseilha (França) para o meu mestrado; a São Paulo (Unifesp), para o meu doutorado; e para Bolonha (Itália), para o meu pós-doutorado.

Durante todo este tempo, tive o privilégio de conviver com seus grandes mestres da medicina, da neurologia e da vida. Foram lições técnicas, humanas e éticas, que me acompanham por toda a minha trajetória acadêmica e profissional.

Seria preciso retribuir tudo isto. Assim, tentei dar um pouco de mim como professor, chefe do meu Departamento de Neuro-Psiquiatria. Participei com um extraordinário grupo da criação do Simpósio sobre o Cérebro. Implantei a pós-graduação em neuro-psiquiatria, tendo sido seu primeiro coordenador. Contribui com a administração da UFPE como diretor do Centro de Ciências da Saúde e como vice-reitor, ambas as funções em dois mandatos sucessivos.

Antes que a saída se concretize, quero transmitir a todos uma declaração de amor à minha UFPE e enviar um abraço fraterno a todos que conviveram comigo, nas convergências e nas divergências, praticando uma plena democracia. Tenho certeza que a minha despedida será prazerosa, pois ela é plena de boas recordações e espero, para o futuro, ver a instituição cada vez mais alta no patamar das grandes universidades.

Ao sair da UFPE, sinto uma sensação de vazio, mas com a esperança de construir um novo ciclo na minha vida. Ainda não sei como farei de um modo mais amplo. Mas, com certeza, continuarei a praticar a medicina, pois médico jamais deixei de ser, e a exercer as especialidades de neurologia, epileptologia e neurofisiologia clínica, minhas paixões.

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