Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Folha
É o papel do Estado como regulador e indutor das atividades
econômicas. Nada contra – salvo pela voz de oposicionistas de plumagem recalcitrante,
agora de modo acanhado, tamanho o fracasso das políticas neoliberais e da tese
do Estado mínimo. O governo federal, antes com Lula, agora com Dilma, tem
tomado medidas ousadas anticrise, em meio às consequências da crise global
sobre nossa economia e de novas ameaças que inibem investimentos produtivos.
Uma das linhas de ação tem sido a desoneração fiscal para produtos
industrializados, sobretudo em relação à indústria automotiva e de
eletrodomésticos. Aliada a ampliação do crédito e ao estímulo ao consumo, tem
contribuído marcadamente para a manutenção de níveis de produção que, embora
muito aquém do desejado, suficientes para represar o desemprego.
O crescimento do PIB em 2012, estimado em apenas 1%, ainda
que uma proeza devido às pressões externas, mostra-se distante do padrão mínimo
de sustentabilidade. A presidenta Dilma tem reiterado o propósito de alcançar a
meta de crescimento de 4% este ano, 1 ponto percentual além do previsto pelo
mercado. Daí o vigor com que tem enfrentado a queda de braços com o sistema
financeiro na política de significativa redução dos juros.
Agora, em entrevista ao Valor Econômico, o ministro Mantega,
da Fazenda, sinaliza com novas desonerações de impostos em 2013, além das
indicadas na proposta orçamentária, e abater a despesa do cálculo do superávit
primário das contas públicas. Chegaria a R$ 25 bilhões o abatimento do
superávit.
À semelhança da
cortisona, um remédio poderoso – e heroico, nas atuais circunstâncias; mas
igualmente fadado a produzir efeitos colaterais indesejáveis sobre as finanças
dos estados e Municípios.
Como se sabe, o
Fundo de Participação dos Municípios (FPM) é nutrido pela arrecadação, por
parte do governo federal, do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI). Ora, a redução do IPI incide diretamente sobre os
valores a serem repassados aos estados e municípios.
Daí a grita de
governadores e prefeitos, não exatamente contra a desoneração em si, mas em
favor de medidas compensatórias à semelhança das adotadas pelo presidente Lula.
De acordo com a CNM (Confederação
Nacional de Municípios), os
municípios brasileiros perderam R$ 1,67 bilhão em 2012. Em Pernambuco essas
perdas atingiram R$ 600 milhões. O Recife viu subtraídos de sua receita nada
menos que R$ 9.827.147,06.
Lula, a seu
tempo, através de medida provisória, canalizou R$ 1 bilhão para prefeituras
afetadas pela diminuição nos repasses do FPM. Criou linha de crédito especial de
R$ 4 bilhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) operada pelo BNDES para
compensar queda nos repasses aos estados e ao Distrito Federal. Promoveu a antecipação
de R$ 1,06 bilhão de repasses do Fundeb, fundo que financia a educação básica,
para Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco e
Piauí, e aos seus municípios. Além
disso, autorizou a abertura de renegociação das dívidas das prefeituras com a
Previdência Social, chegando a R$ 14 bilhões o montante parcelado.
Nesse
aspecto – o das compensações em favor do equilíbrio federativo e do socorro a
prefeituras, especialmente as que dependem quase que exclusivamente do FPM -, a
presidenta Dilma ainda está devendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário