20 janeiro 2013

Novo tempo, novos hábitos de consumo

Muita coisa mudou
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da revista Algomais e no Jornal da Besta Fubana

A certa altura da vida, basta uma notícia fortuita para reacender lembranças de tempos idos, marcas na memória cotejadas ao longo da estrada. Leio agora que as vendas do comércio eletrônico brasileiro alcançaram o montante de R$ 24,12 bilhões em 2012, mais 29% do que o ano anterior, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

O brasileiro compra cada vez mais pela internet: roupas, acessórios, cosméticos e eletrodomésticos, sobretudo.

Lembro que num delicioso livro de viagem – Gato Preto em Campo de Neve – escrito por Érico Veríssimo em 1941, quando de uma excursão pelos EUA, li sobre a existência de coisas que sequer conseguia imaginar. Meu horizonte pouco ultrapassava os limites da Lagoa Seca, bairro de Natal, onde nasci e vivi até o meio da adolescência. (Mais tarde, já no Recife, outro livro, este do jornalista Mauro Almeida, também referente à vida nos EUA – Estados Unidos da América – civilização empacotada -, voltaria a me impressionar). Tudo me parecia moderno demais, inatingível ao nosso Brasil à época alvo de comentários depreciativos que ouvia na mercearia de meu pai. – Isso nunca vai chegar aqui, diziam frequentadores mais assíduos, mais dados à conversa do que à compra.

Pois hoje “tudo aquilo” chegou cá em nossas terras. Revistas especializadas, ditas temáticas, tem pra qualquer gosto e interesse: jardinagem, criação de felinos e cães, pesca e muito etc. a perder de vista. As chamadas lojas de departamento de antigamente, agora moderníssimos complexos plantados como âncoras nos chamados shopping centers.

Daí não mais se estranhar que nove milhões de brasileiros tenham feito sua primeira compra online em 2012. A previsão é que, em 2013, se amplie consideravelmente o consumo de bens digitais, como e-books, músicas e filmes “on demand”. Isso na proporção direta da expansão das vendas de tablets e smartphones.

- Muita coisa mudou, meu filho – dizia minha mãe diante da constatação de novas modernidades, que a surpreendiam sempre.

Tem gente que se queixa disso. Que preferiria os modos de compra antigos, na bodega da esquina e na feira livre; ou, no máximo, pelo reembolso postal. E que encontra sempre um veio por onde criticar as múltiplas facilidades advindas da tecnologia da informação.

Cá com meus modestos botões, prefiro saudar com entusiasmo tudo o que facilite os procedimentos corriqueiros, quase automáticos, que a vida em grandes cidades nos impõe – inclusive o indefectível ato de comprar. E, se possível, pegar carona nessa onda, e com isso livrar mais tempo para velhos costumes – como de ler livros e ouvir uma boa música e dar atenção à pessoas queridas. Se temos que correr muito nesse mundo de competição, de obstáculos à livre locomoção e de perda de tempo útil, pois que o façamos com a ajuda das modernas tecnologias e nos locupletemos todos das horas que ganhamos de sobra.

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