Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Folha
A discrepância de interesses partidários nesse aspecto até
que existe, como é natural. Mas não na dimensão e no formato que se procura
antecipar, tingindo a cores pesadas diferenças de opinião acerca de questões
pontuais. Ou nem isso, uma vez que basta um líder de uma dessas agremiações
aliadas opinar sobre o desempenho da economia em termos afirmativos para se
concluir (sic) que se trata de divergência fadada a provocar uma futura
dissidência em relação ao PT.
Nunca é demais repetir: partidos aliados, no governo ou na
oposição, têm o direito e, mais que isso, o dever de expressar com nitidez a
opinião sobre questões candentes – até como contribuição ao debate destinado a
ajustar rumos e a aprimorar a unidade em torno os propósitos comuns. Unidade é
algo vivo, multicolor – jamais cinza, engessada.
Ora, se assim é, conforme a vida tem comprovado desde
antanho, por que analistas respeitados ocupam tanto espaço na mídia vendendo
gato por lebre e prenunciando a divisão da coalizão governista? Porque se
envolvem, conscientemente ou não, pelo esforço dos órgãos a que pertencem de socorrerem os enfraquecidos
partidos de oposição, anêmicos nas ideias e tresloucadas nos rumos.
Faça você mesmo o teste. Percorra os jornais e blogs
editados no sul do País e os locais. Veja também os de outras regiões. Ouça o
noticiário da rádio e da TV de sua preferência. Em pouco mais de uma hora você
constatará essa coisa estranha: a pauta é a mesma, verdadeiro pensamento único
de oposição, com raras diferenciações, é despejado sobre ouvintes, leitores,
telespectadores e internautas. Assim, a intriga ganha ares de verdade e se
semeia a impressão de que vem tormenta por aí e que uma dissidência pode
ocorrer.
Tem mais: para completar os maus prenúncios, uma avalanche
de previsões pessimistas sobre o desempenho da economia, na suposição de que se
o PIB não crescer, a inflação fugir ao controle, o consumo cair e o emprego
estagnar a presidenta Dilma sofrerá ameaças na provável candidatura à reeleição.
A estratégia é até bem urdida, mas esbarra na realidade
concreta – esta sim, pesa na consciência e no estado de ânimo da maioria dos
brasileiros, que experimenta melhoria em suas condições de existência. Entre a
fantasiosa cantilena midiática e a experiência cotidiana, não vacila – e por
isso dá respaldo à presidente e contribui, direta ou indiretamente, para que as
forças governistas permaneçam juntas.
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