16 outubro 2013

Apoiadores & apoiados

Quem transfere votos para quem?
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Com a devida vênia dos especialistas em pesquisas eleitorais – que têm o meu respeito -, arrisco dizer que transferir voto no Brasil é coisa para poucos. Ou para ninguém.

Claro que, em certas circunstâncias, o quadro eleitoral é de tal ordem definido que poucas são as variáveis que mudam o curso dos acontecimentos; e aí fica mais fácil votar em Fulano porque é apoiado por Sicrano. Mas é raro. Mesmo em pleitos recentes, aqui e Brasil afora, em que a crônica política assevera perante a História que o apoiador foi decisivo para a eleição do apoiado.

Suponho que assim ocorre, quer dizer, é muito difícil transferir votos justamente porque o sistema eleitoral brasileiro impõe o voto unipessoal, no candidato. O eleitor não vota em partidos e programas, como ocorre em países onde essa contingência decorre naturalmente da eleição para o parlamento baseada em listas preordenadas pelos partidos. Aí, sim: embora conte o prestígio pessoal dos integrantes da lista, o que se sobressai são as propostas apresentadas por cada partido, alvo da escolha do eleitor.

Já citei aqui antes. Nas últimas eleições parlamentares em Portugal eu me encontrava em Lisboa, cumprindo compromisso do PCdoB. Na TV, onde o tempo destinado aos partidos é equânime, seja no noticiário convencional, seja nos programas de debate, líderes das legendas litigantes expunham sua análise acerca da crise européia, seus efeitos sobre a economia portuguesa e soluções. Tudo muito claro.

Ora, nesses casos, a presença de um José Saramago, por exemplo, na lista do Partido Comunista Português, representou, num dos pleitos, um importante aval ao programa defendido pelos comunistas, importante por se tratar de personalidade admirada e respeitada por toda a sociedade lusitana. Não se enquadra no que aqui conhecemos como transferência de voto, é evidente, mas é um caso emblemático de uma espécie de fusão entre prestígio pessoal e proposta programática.

Voltando ao caso brasileiro, o assunto vem à tona porque, na medida em que se inicia a fase pré-eleitoral propriamente dita – apesar de estarmos a 8 meses das convenções partidárias, que acontecerão em junho -, novamente se dá destaque aos “grandes eleitores”, assim chamados por terem o dom de materializar seu prestigio pessoal e político em votações expressivas para candidatos que apóiem.

Marina Silva, bem posicionada atualmente nas pesquisas, transferirá o apoio de seu suposto eleitorado para Eduardo Campos? O apoio de José Serra viabilizará Aécio Neves em São Paulo? Ou, descendo à província, é certo que quem Eduardo apoiar para governador já pode providenciar o terno da posse?

Melhor ter cautela. A um ano das eleições, muitos fatores que influenciarão o curso da disputa nacional e estadual ainda estão por entrar em cena. Desde o desempenho da economia – elemento importante para Dilma, por exemplo – aos arranjos locais envolvendo os diversos partidos e suas chapas de candidatos proporcionais e à amplitude política e social das coligações. Assim, será mais útil ater-se ao cenário em formação como um todo e especular sobre o suposto peso dos “grandes eleitores” lá adiante. Até porque os quarenta milhões de brasileiros que se viram inseridos socialmente na última década serão tão importantes eleitoralmente, quanto ainda pouco avaliados nas análises das pesquisas.

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