10 outubro 2013

Entre o cigarro e a rosa

O cigarro que eu não fumo
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Revista Algomais


Fumo não. Nunca fumei. Quer dizer: tentei, mas não consegui. Isso foi no início da minha adolescência, em Natal, quando meu pai tinha uma mercearia. Escondido, livrei um Astória (que a turma dizia ser pra peito de aço, e era mesmo), acendi, aspirei e tentei tragar... Foi a minha sorte: engasguei-me com a fumaça, senti náuseas e adquiri, para o resto da vida, uma rejeição ao cigarro que até cinzeiro usado me causa asco.


Desde então não me incorporei aos milhões de brasileiros que fazem do cigarro a sua muleta e nele se inspiram para curtir amores, dores e sentimentos vários. Como cantam Nelson Gonçalves, Núbia Lafayette e outros tantos: “Nos cigarros que eu fumo/Te vejo nas espirais”.
 
Nada disso. A mulher amada enxergo numa rosa vermelha. Muito mais romântico – e saudável.
 
Assim, não me afeta a notícia de que o cigarro eletrônico é melhor que o adesivo para largar o vício, conforme atesta uma pesquisa feita na Nova Zelândia,  envolvendo  657 adultos desejosos de parar de fumar.

 
Não me afeta e ainda me deixa desconfiado. Que nem uma pesquisa realizada em Israel, anos atrás, que recomendava comer até seis ovos de galinha ao dia, que não teria nenhuma influência na taxa de colesterol! Parece coisa encomendada por avicultores.

 
O cigarro eletrônico está proibido no Brasil, pela Anvisa, baseada na legislação sanitária que exige comprovação de segurança e eficácia do produto (seja na redução de dano, seja no tratamento do tabagismo). Teria essa pesquisa neozelandesa algo a ver com essa proibição, aqui e em outras plagas?

 
O placar é esse: 57% dos que usaram 'e-cigarro' reduziram o vício, contra 41% com adesivos. Assim, conclui-se que o cigarro eletrônico é ao menos meio a meio com o adesivo de nicotina para estimular o fumante a deixar o vício. Se ficou praticamente empatado e o adesivo é aceito, que fique o cigarro eletrônico proibido. Até porque os cientistas neozelandeses, chefiados por um tal Dr. Chris Bullen, da Universidade de Auckland, ao que se sabe não trouxeram à luz dados suficientes para justificar a quebra da interdição do produto no Brasil. E ponto final.

 
Melhor é abordar as causas do tabagismo. No site do Ministério da Saúde lê-se que a maioria dos fumantes é influenciada principalmente pela publicidade maciça do cigarro nos meios de comunicação de massa que, apesar de legalmente proibida, ainda exerce forte influência no comportamento tanto dos jovens como dos adultos. Adolescentes tendem a seguir pais, professores, ídolos e amigos que fumam. Isto somado à curiosidade pelo produto e à necessidade de autoafirmação. Mais: porque são levados a crer que o cigarro acalma a alma nos momentos de tensão, ansiedade e desamor – acrescento.

 
Sei não. Se dependesse de mim, não fumante que respeita (à distância) o fumante, o cigarro seria levado a derradeiro e definitivo plano na vida das pessoas pela via dos sonhos realizados e do amor correspondido. Aí rosas vermelhas e de outras tonalidades reinariam para sempre.
 


 

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