25 janeiro 2015

Nossa saga latinoamericana

Cheiro de passado
Eduardo Bomfim, no Vermelho

Em entrevista ao jornalista, escritor colombiano Plinio Mendoza, Gabriel García Márquez, já falecido, revelou a fonte de inspiração para escrever sua obra a um só tempo mágica e realista.

Diz ele que não inventou coisa alguma, extraiu da realidade latino-americana a imaginação fértil, mística, exuberante do povo e os seus subterfúgios como proteção contra o caudilhismo secular no continente, sempre escudado pelo “grande irmão” do Norte.

Para García Márquez os ditadores que pontificaram na região através dos tempos tinham em comum além da truculência, personalidades delirantes e cita exemplos.

Em 1958 Pérez Jiménez fugiu da Venezuela, com o rosto inchado por uma nevralgia horrível, e deixou na escada do avião por esquecimento uma sacola entre as várias idênticas que levou consigo, com 11 milhões de dólares, enquanto a Venezuela era tomada por um carnaval fora de época.

O Dr. Duvalier, o Papa Doc do sofrido Haiti, mandou exterminar todos os cachorros pretos do País porque um dos seus inimigos, para não ser assassinado, teria se transformado num cachorro preto.

O Dr. Francia do Paraguai, tido como filósofo por Carlyle, fechou as fronteiras da nação irmã como uma casa, deixou só uma janela aberta para que entrasse o correio, além disso ordenou que todo homem com mais de 21 anos devia casar.

Já o ditador teósofo Maximiliano Hernández Martínez de El Salvador mandou forrar com papel vermelho toda a iluminação pública do País para combater uma epidemia de sarampo e inventou um pêndulo para saber se os seus alimentos estavam envenenados.

Juan Vicente Gómez da Venezuela tinha uma intuição incrível, a faculdade de adivinho, porque fazia anunciar a sua morte e depois ressuscitava.

Essa é a nossa sofrida América Latina, manancial da genial obra literária de Gabriel García Márquez, que certamente começa a superar a absurda tradição autoritária, com as próprias pernas, rumo a um novo ciclo de crescimento sem as amarras colonizadoras.

Mas há uma minoria, felizmente, saudosa do cheiro da fruta que raros desfrutavam, descrita nessa narrativa literal de o “Cheiro de Goiaba” do escritor colombiano: a Ditadura.

Por isso, é que cabe ao Brasil, aos povos latino-americanos persistir na trilha dos novos tempos de soberania, democracia, justiça social, do desenvolvimento econômico.

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