Conflito social nas ruas
Luciano Siqueira
Duas manifestações articuladas para acontecerem em várias
cidades simultaneamente – a de hoje e a do próximo domingo – provavelmente
reflitam o conflito social no Brasil em tempo de mudanças e de crise mundial.
Por duas razões.
A primeira: as inegáveis conquistas decorrentes da linha de
desenvolvimento econômico com inclusão social, experimentada desde o primeiro
governo Lula e continuadas por Dilma.
Mais de quarenta milhões de brasileiros saíram da existência
em condições abaixo da linha da pobreza e da pobreza extrema e se incluíram no
mercado de trabalho e de consumo. Tal proeza contraria frontalmente as elites
dominantes e, na medida em que não contemplou na mesma proporção vasta parcela
da camada média da população, semeia aí certo desconforto.
Não são poucos os que, sem nenhum pejo, como artistas de
renome, se dizem incomodados com tantos pobres nos aeroportos e nos voos
comerciais e em shopping centers.
A segunda razão: os impasses de nossa economia, em grande
parte decorrentes de pressões externas advindas da crise global. A queda dos
preços internacionais de commodities – item destacado de nossa pauta de
exportações – é um exemplo. A desvantagem competitiva da indústria aqui
instalada, idem.
Ameaças inflacionárias, retenção de novas oportunidades de
trabalho, incerteza reais e ampliadas pela cobertura catastrófica da mídia
geram uma sensação de insegurança que se dissemina na sociedade.
Sob nuvens ameaçadoras, o instinto de sobrevivência e a gama
de preconceitos antes abafada influenciam o comportamento das pessoas. Da elite
rentista e das camadas dos mais abastados ou que assim se consideram. E também
dos que compõem a base da pirâmide social e têm melhorado de vida.
No domingo, sob estímulo de partidos conservadores e do
complexo midiático oposicionista, o mote é o desejo do impeachment da
presidenta Dilma – que, mesmo sem base real e sem sustentação jurídica, serve
como palavra de ordem para galvanizar insatisfações e desgastar o governo. A denúncia
da corrupção é uma das bandeiras, mas a supressão do financiamento de campanhas
eleitorais por grupos econômicos, não.
Nesta sexta-feira, com a contribuição de partidos de
esquerda e do campo progressista, do MST e centrais sindicais e da UNE, UBES e
CONAM, ainda que sob certa dispersão pelo desejo de reafirmar bandeiras de
lutas e defender conquistas recém-alcançadas (por parte dos movimentos sociais),
objetivamente a defesa do governo Dilma e da legalidade democrática é a pedra
de toque. O verdadeiro combate à corrupção via reforma política que extirpe o financiamento
de campanhas por grupos econômicos é uma das bandeiras.
Certamente o contaste visual dirá muito. Hoje, predominarão
nas ruas os que vivem do trabalho, a juventude estudantil atuante e camadas populares
difusas. Domingo, os bem aquinhoados e bem vestidos.
O conflito social vai
às ruas, toma forma e ganha visibilidade – com implicações políticas a
conferir.
Publicado no Jornal da Besta Fubana
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