15 março 2015

Sobre vida e flores

Todo mundo pode ser feliz em qualquer lugar

Matheus Landim

Ao lado da minha casa existe um corredor que faz parte do quintal. 
Quando eu voltei a morar com a minha família, sabia que seria uma experiência difícil, e que eu precisaria ocupar a minha cabeça com uma atividade que fosse unicamente minha. Então ocupei o quintal com plantas. As mais diversas. Uma das minhas favoritas é uma bonina que nasceu do nada num vaso de peregum roxo. 
Digo do nada porque eu plantei uma semente nesse vaso há tanto tempo que nem lembrava mais dela quando ela brotou - e se desenvolveu incrivelmente rápido, por sinal. Hoje ela é a bonina mais bonita que eu já vi. Seu caule é particularmente grosso, quase tão grosso quanto o do próprio peregum (que é o da folha pequena), e de uma tonalidade verde que me parece incrivelmente saudável. Suas folhas são largas e finas, e na ponta das ramificações há flores. Essas flores passam o dia inteiro como que murchas, fechadas em si mesmas. Apenas quando o sol se põe elas se abrem. 
Todos os dias, naquele horário em que não é dia, mas também não é noite, eu vou ao meu quintal verificar se as flores se abriram. Todos os dias elas estão lá, misticamente abertas, e todos os dias eu me sinto absolutamente encantando com sua presença. Gosto de verificá-las porque me sinto responsável por pelo menos uma coisa verdadeiramente bela nesse mundo. 
Me sinto como uma mãe que diariamente pergunta ao seu filho: “Está tudo bem?”; e, embora as flores não me respondam com a voz que um filho responde a sua mãe, sinto que elas me respondem sim, de alguma maneira.
Na minha relação com as minhas plantas, não existe nenhuma voz, embora existam pessoas que cultivem plantas e literalmente conversem com elas. Não sei por que, mas acho que palavras são desnecessárias (para elas). Acho que elas têm acesso aos meus pensamentos. Basta eu pensar ou sentir e elas saberão o que eu sinto ou o que penso. 
Também gosto de achar que, quando eu as visito em meu exercício diário e o vento as agita, elas estão, na verdade, conscientemente reagindo a minha presença. Como que me cumprimentando. Ou vibrando de felicidade e dizendo: “Ele chegou! Ele chegou! Ele está aqui!”. Será que elas se sentem tristes nos finais de semana, quando eu não estou em casa?
É extremamente revigorante e inspirador cultivar uma coisa tão bela quanto uma planta que têm flores. Claro, eu também gosto das plantas que não dão flores, ou que só dão flores ocasionalmente, ou as que viverão tanto tempo que só darão flores quando eu já tiver morrido; mas a sensação de verificar uma flor em uma planta é como a de receber um presente. É isso mesmo! Sinto que minha bonina me presenteia com essas flores. “Pobre homem! Vamos dar a ele algumas flores para que ele se inspire.” Será que elas pensam isso? Não sei. Mas a delicadeza de sua cor e de suas pétalas é tão comovente que não posso deixar de indagar se algo tão belo no mundo como uma flor não seria um presente de uma planta para pôr calor no coração de um homem.
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