03 março 2015

O peso político do novo proletariado urbano

Novos atores sociais

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

O repouso é relativo, o movimento é que é absoluto – aprendemos da dialética. A realidade em certa medida é furta-cor, no sentido de que evolui às vezes lentamente, às vezes aos saltos.
Nos últimos doze anos, nos governos Lula e Dilma, ocorreram transformações na sociedade brasileira de certa envergadura, muitas vezes obscurecidas pela penumbra que se ergue na grande mídia em razão da rinha política.
Estima-se em mais de quarenta milhões os brasileiros e brasileiras que ascenderam socialmente no período, saindo da pobreza extrema ou de condições de existência abaixo da linha de pobreza. O equivalente à população da Argentina.
Na esteira desse fenômeno, vêm à luz dados de pesquisa realizada pelo Data Favela, com apoio do Instituto Data Popular e da Central Única das Favelas (Cufa), que revelam um mercado de R$ 68,6 bilhões ao ano, constituído por moradores de comunidades tipificadas como favelas, correspondente a uma população de 12,3 milhões de habitantes.
O que se passa nessa faixa da população urbana brasileira vem sendo intensamente pesquisado pelo Data Popular, cuja carteira de clientes ostenta grandes marcas do comercio varejista e de produtos de largo consumo.
Deve ser também um dos focos de análise das forças políticas, particularmente aquelas interessadas em prosseguir as mudanças em curso.
Essa parcela da população, parte significativa do que se tem chamado erroneamente de “nova classe média” – quando na verdade se trata de um novo proletariado, fabril e de ocupações assalariadas em geral -, certamente não adquiriu a consciência das razões de sua ascensão na pirâmide social. Sequer tem noção da natureza das políticas públicas que lhes favorecem.
Ao contrário, como o próprio Data Popular tem mencionado em alguns estudos, trata-se de uma extensa camada formada predominantemente por jovens, recém-chegados ao mercado de trabalho, muitos dos quais na condição de primeiro membro da família a estudar numa escola de nível superior.
Essa gente considera que chegou aonde chegou “por esforço próprio”, como conquista individual desvinculada das mudanças políticas, econômicas e sociais em andamento.
Tal percepção resulta num comportamento eleitoral errático. Extenso contingente provavelmente era votado no candidato Aécio Neves, que representava, no pleito de outubro, a negação da linha de crescimento econômico inclusivo, ameaçando o retrocesso às políticas de cunho neoliberal, que engendram a contração de oportunidades para esse novos atores sociais.
Assim, se pode afirmar que os que governam o País terão incorrido no erro apontado pelo estudioso da guerra clássica, Clausewitz, para quem muitos exércitos terão perdido a guerra porque seus generais esqueceram de proclamar as vitórias conquistadas em seguidas batalhas.
O fato é que, mirando o pleito municipal vindouro, a ninguém será facultada a subestimação desse segmento socialmente emergente.
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