Novos atores sociais
Luciano Siqueira, no Blog da
Folha
O repouso é
relativo, o movimento é que é absoluto – aprendemos da dialética. A realidade
em certa medida é furta-cor, no sentido de que evolui às vezes lentamente, às
vezes aos saltos.
Nos últimos doze
anos, nos governos Lula e Dilma, ocorreram transformações na sociedade
brasileira de certa envergadura, muitas vezes obscurecidas pela penumbra que se
ergue na grande mídia em razão da rinha política.
Estima-se em
mais de quarenta milhões os brasileiros e brasileiras que ascenderam
socialmente no período, saindo da pobreza extrema ou de condições de existência
abaixo da linha de pobreza. O equivalente à população da Argentina.
Na esteira
desse fenômeno, vêm à luz dados de pesquisa realizada pelo Data Favela, com
apoio do Instituto Data Popular e da Central Única das Favelas (Cufa), que
revelam um mercado de R$ 68,6 bilhões ao ano, constituído por moradores de
comunidades tipificadas como favelas, correspondente a uma população de 12,3
milhões de habitantes.
O que se passa
nessa faixa da população urbana brasileira vem sendo intensamente pesquisado
pelo Data Popular, cuja carteira de clientes ostenta grandes marcas do comercio
varejista e de produtos de largo consumo.
Deve ser
também um dos focos de análise das forças políticas, particularmente aquelas
interessadas em prosseguir as mudanças em curso.
Essa parcela
da população, parte significativa do que se tem chamado erroneamente de “nova
classe média” – quando na verdade se trata de um novo proletariado, fabril e de
ocupações assalariadas em geral -, certamente não adquiriu a consciência das
razões de sua ascensão na pirâmide social. Sequer tem noção da natureza das
políticas públicas que lhes favorecem.
Ao contrário,
como o próprio Data Popular tem mencionado em alguns estudos, trata-se de uma
extensa camada formada predominantemente por jovens, recém-chegados ao mercado
de trabalho, muitos dos quais na condição de primeiro membro da família a
estudar numa escola de nível superior.
Essa gente
considera que chegou aonde chegou “por esforço próprio”, como conquista
individual desvinculada das mudanças políticas, econômicas e sociais em
andamento.
Tal percepção
resulta num comportamento eleitoral errático. Extenso contingente provavelmente
era votado no candidato Aécio Neves, que representava, no pleito de outubro, a
negação da linha de crescimento econômico inclusivo, ameaçando o retrocesso às
políticas de cunho neoliberal, que engendram a contração de oportunidades para
esse novos atores sociais.
Assim, se pode
afirmar que os que governam o País terão incorrido no erro apontado pelo
estudioso da guerra clássica, Clausewitz, para quem muitos exércitos terão
perdido a guerra porque seus generais esqueceram de proclamar as vitórias
conquistadas em seguidas batalhas.
O fato é que,
mirando o pleito municipal vindouro, a ninguém será facultada a subestimação
desse segmento socialmente emergente.
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