14 dezembro 2016

Conflito institucional

Antes que o caos se estabeleça
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo

Onde há contradições pode haver crise. Tão natural quanto o parto aos nove meses de gestação – e, em tese, não necessariamente ruim, pois situações críticas podem ser a ante sala de uma situação nova, melhorada.
Mas há de haver um nexo, algum grau de previsibilidade a partir da consideração do conjunto das variáveis em presença.
O que ocorre no Brasil hoje é uma mixórdia institucional, onde nada é previsível e tudo, absolutamente tudo – sobretudo o pior – pode acontecer.
O ponto de partida da crise institucional, que evolui em paralelo e ao mesmo tempo sincronizada com a crise econômica e o desmoronamento da representação política parlamentar, foi o impeachment da presidenta Dilma.
O impeachment resultou de uma vontade política respaldada numa maioria parlamentar circunstancial, ao arrepio da Constituição. Sem com provado crime de responsabilidade da mandatária, o seu afastamento definitivo se constituiu num golpe.
Ora, se a Constituição pôde ser assim desconsiderada, num ambiente de agudização de contradições nas diversas esferas da vida nacional, nada mais poderia encontrar limites.
A própria Operação Lava Jato, inspirada num objetivo nobre - o combate à corrupção -, mas desvirtuada pela conotação partidária explicita, cuidou também, desde os seus primórdios de desrespeitar normas processuais. Com o aplauso e beneplácito das forças à direita e do complexo midiático golpista.
Agora, justamente através do instituto da delação premiada também personalidades, líderes e grupos conservadores e de direita, que urravam de satisfação enquanto o alvo principal foi o PT (e continua sendo), agora são igualmente atingidos.
Nem o juiz Sergio Moro, que faz vista grossa diante das quatorze referências explícitas ao senador Aécio Neves, do PSDB, em depoimentos de delatores, parece ter meios de impedir que os figurões do seu lado político se vejam também enlameados.
Nesse ambiente, a Câmara e o Senado aprovam o que bem entendem, na linha da regressão de conquistas e direitos e em benefício próprio; o Judiciário extrapola seus deveres constitucionais e o Executivo, cuja principal cadeira é ocupada por um presidente sem estatura, frágil e seriamente chamuscado pelas delações premiadas, esperneia entre a incompetência e a falta de representatividade.
Todos atiram contra todos e há baixas em todas as hostes.
Entrementes, não se reconhecem nessa cena complexa e plena de riscos, interlocutores que, em nome dos chamados Três Poderes, se sobressaiam pela competência e pela respeitabilidade perante a sociedade, em condições de promoverem algum entendimento em nome do equilíbrio e do bom funcionamento das instituições.
Nesse contexto, é urgente a emergência de uma vontade democrática coletiva, socialmente respaldada, para além de divergências de fundo, que possa restabelecer o ambiente necessário à preservação da Constituição e oferecer alternativas à crise.
Antes que o caos se estabeleça de vez.

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