06 dezembro 2016

Aparência e realidade

Gente, coisas e animais 
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Mero subjetivismo: cada um de nós enxerga os outros conforme suas referências e ocasional estado de espírito - respeitáveis, sérias ou descontraídas, jocosas.
Pessoas se parecem com bichos ou com objetos, você já reparou?
Tive um colega no curso ginasial, muito bom em matemática, que era uma águia, uma exuberante águia - pelos traços fisionômicos e pelo corpanzil esguio. Aquele nariz pontiagudo era de águia, sem a menor dúvida!
Mulher longilínea, mais de um metro e setenta e cinco e movimentos comedidos logo é vista como girafa. Ao longo da vida, conheci várias – invariavelmente bonitas.
Um velho amigo conserva até hoje, vividas mais de seis décadas, o desenho corporal de um frigobar. Baixa estatura, ligeiramente obeso, o tronco e o abdome inteiriços formando um cubo. Abstraia o pescoço e a cabeça e os membros inferiores e você terá aos seus olhos um sempre simpático e risonho frigobar.
Um exercício divertido é observar as pessoas no salão de embarque do aeroporto, na sala de espera do consultório médico ou no restaurante e identificar a fauna presente.
Outro dia, numa sorveteria, vi entrar um casal, ela por sinal muito bonita, e ele o rosto inconfundível de um coelho.
Mesmo minha inesquecível mãe, cujo fervor religioso a impelia a impor o crivo da "falta de caridade" em tudo o que parecesse julgamento pessoal negativo, por mais inocente que fosse, reconhecia o pecado venial de achar uma velhinha pedinte que frequentava nossa casa parecidíssima com uma tesourinha de unha.
Não sei, nunca perguntei a ninguém alvo desse tipo de associação, em que grau se constrange, ou não. Ou simplesmente entra na brincadeira.
Ponto para os artistas do cartum, da charge e da caricatura.
O presidente Eurico Dutra teve seu rosto de coruja desenhado à exaustão. Carlos Lacerda foi retratado anos a fio como corvo.
Caso do cidadão que assumiu a presidência da República via golpe parlamentar-midiático, Michel Temer. Não deve se sentir à vontade por se reconhecer ao espelho na imagem de um vampiro.
De cara amarrada Temer é um vampiro melado e cuspido. Quando ri, pior ainda. De pé, ouvindo o Hino Nacional, parece mais o embaixador da Transilvânia. 
Pior: as pessoas que se parecem com bichos e objetos apenas se parecem. Michel Temer não apenas se parece; ele é. Um autêntico e tenebroso vampiro, que passará à História como usurpador do cargo que ora ocupa.

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