Uma coincidência
providencial
Tereza Cruvinel,
Brasil 247
No dia em que Temer, Padilha,
Moreira, Alckmin e outros peemedebistas e tucanos foram alvejados pela primeira
delação da Odebrecht, o Ministério Público Federal resolveu apresentar mais uma
denúncia contra o ex-presidente Lula, numa coincidência que teve o condão,
calculado ou não, de dividir as atenções e equilibrar as avarias. A denúncia de
que ele fez tráfico de influência no caso da compra dos caças suecos Grippen
agride a lógica dos fatos que cercaram o negócio de US 4,5 bilhões para atender
a uma demanda da Aeronáutica que se arrastava há mais de dez anos. O
ex-ministro da Defesa da época, Celso Amorim, considera a denúncia absurda e
espantosa e aponta as razões que levaram a Aeronáutica a optar pelos aviões
suecos.
- Li com espanto as notícias sobre
esta absurda denúncia. Os Grippen sempre foram a preferência da Aeronáutica e a
escolha foi estritamente técnica, baseada em uma análise que levou em
conta a combinação de três fatores: performance, custo (preço mais manutenção)
e transferência de tecnologia. Pouco antes do anuncio da decisão, em dezembro
de 2013, o comando da aeronáutica reafirmou em documento que certamente consta
dos arquivos do Ministério da Defesa, as razões que o levavam a optar
pelos caças suecos. Não houve a mais remota interferência do ex-presidente Lula
nesse processo - disse Amorim ao 247.
Ao longo de seu governo, Lula
foi acusado de ter preferência pelos Rafale, modelo que a França empenhou-se em
vender ao Brasil. Esta opção seria contrária aos pareceres técnicos da
Aeronáutica, que se inclinava pelos Grippen suecos. Quando se esperava que ele
batesse o martelo ainda em seu governo, em novembro de 2010 Lula anunciou que
deixaria a questão para sua sucessora já eleita, Dilma Rousseff. Preferia não
autorizar um negócío de tal envergadura no apagar das luzes de sua gestão.
Finalmente, em 18 de dezembro de
2013, o governo anunciou a compra de 36 caças supersônicos do modelo sueco
Grippen, ao preço de US$ 4,5 bilhões, a serem pagos até 2023. Não faltaram
notícias de que Dilma contrariou Lula em sua preferência pelo modelo francês,
que teria motivado a aproximação com o governo de Nicolás Sarkozy. A Boeing
também concorria ao negócio. O ministro da Defesa, Celso Amorim, fez o anúncio
afirmando que a decisão “foi objeto de estudos e ponderações muito
cuidadosas".
No início deste ano a Operação
Zelotes, desviando seu foco dos sonegadores que pagaram milhões aos
conselheiros do CARF para se livrar de multas bilionárias da Receita
Federal, passou a mirar Lula. A denúncia diz que as investigações concluíram
que o lobista Mauro Marcondes fez lobby para a empresa sueca e usou a
influência de Lula junto a Dilma. Que ele a acompanhou ao enterro de Nelson
Mandela para lá “acertar” com o líder do Partido Social Democrata e
futuro primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven, a compra dos Grippen. E com
isso, garantiu para seu filho, também denunciado, uma comissão mísera de
R$ 2,5 milhões sobre um negócio de US$ 4,5 bilhões.
Algumas perguntas os procuradores não
se fazem: Uma. Por que Lula, querendo comissão, não fechou o negócio quando era
presidente? Outra: se ele fez lobby junto a Dilma, e ele aceitou o tráfico de
influência, por que não foi denunciada? E a participação da Aeronáutica, que
tudo avalizou, não suscitou nenhuma dúvida ou suspeita?
Num processo a quê a defesa não teve
acesso, nem mesmo depois de oferecida a denúncia, a lógica e o histórico não
deve ter a menor importância. Muitos menos as provas, que não apareceram, do
tráfico de influência de Lula junto a Dilma e ao Ministério da Defesa.
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