06 dezembro 2016

Candidatura do PCdoB à presidência da República

Uma grande novidade
Haroldo Lima, no Blog do Renato

O mundo político brasileiro recebe uma notícia verdadeiramente inovadora: o PCdoB decidiu construir uma candidatura própria a presidente da República para as próximas eleições.
Os que sonham com um futuro novo para nosso país enchem-se de esperança, porque o partido dos comunistas levará para sua candidatura à presidência da República uma bagagem histórica monumental.
Quando foi  fundado, em 1922, em Niterói, abraçado com a idéia do socialismo, as forças dominantes do Brasil não permitiram que o Partido se legalizasse. Quando a legalidade foi conseguida, em 1927, foi por um breve período.
Pelos meados de 1930, o Partido incorpora uma liderança que já era lendária, Luis Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, do romance de Jorge Amado. E se integra em batalhas políticas numerosas. Acertou muitas vezes, errou outras tantas.
Derrotado o fascismo na II Guerra Mundial, com a participação extraordinária dos comunistas do mundo inteiro, principalmente da União Soviética, não havia como manter os comunistas brasileiros na ilegalidade. Ao sair das catacumbas, o Partido vai às eleições de 1946, elege 14 deputados federais e um senador, Prestes, com votação espetacular.
Campanhas diversas se sucedem, como a d’ “O petróleo é nosso”, liderada pelo general Felicíssimo Cardoso, que se definia como “general e comunista”, e que levou à criação da Petrobras. Passa-se pelo governo de Jango e chega-se à ditadura de 1964.
Aí o Partido aprofunda sua clandestinidade para resistir. Convicto de que todos os canais de atuação política estavam fechados, organiza a guerrilha do Araguaia.
Derrotada a guerrilha, reexamina o quadro político, vê a ditadura desgastada e centra sua atividade na luta por anistia, revogação de atos e leis de exceção e por uma constituinte livremente eleita.
Na eleição de 1982, depois da anistia, o Partido elege alguns deputados na legenda do Dr. Ulisses, o PMDB. Vem a campanha das Diretas Já, de cuja direção o Partido participa.
Inviabilizada as Diretas, houve momentâneo impasse. Articula-se o grupo “Só Diretas” e o PT anuncia que não irá ao Colégio Eleitoral. Há dúvidas e incertezas na esquerda.
Foi quando o Partido se levanta, pela voz de João Amazonas, o homem do Araguaia, que em memoráveis reuniões em Brasília assevera: para derrubar a ditadura fomos ao Araguaia e não conseguimos derrubá-la; demos tudo pelas Diretas Já e perdemos; mas agora a ditadura está cambaleante; com um nome de prestígio, comprometido com a democracia, podemos ir ao Colégio Eleitoral, derrotar o candidato do regime, fechar o Colégio e por fim à ditadura. O “Só Diretas” se desfez. O Amazonas foi a Belo Horizonte ajudar a convencer ao Tancredo da correção dessa luta.  E assim a ditadura terminou.
Novos ares, o Partido se legaliza e cresce no cenário nacional e nos movimentos sociais.
Apóia os governos de Lula e de Dilma e dá força para as políticas públicas então implantadas, que permitiram uma inclusão social até então desconhecida no Brasil. Participa desses governos, dando contribuições substanciais na Articulação Política, na Ciência e Tecnologia, na Defesa, na área energética e na de cinema.
Sua experiência administrativa fez com que Aracajú, sob a gestão comunista de Edivaldo Nogueira, recebesse o título de “Cidade com melhor qualidade de vida” do país, e Juazeiro da Bahia, em 2015, com o prefeito comunista Isaac Carvalho, chegasse a ser a “Cidade com maior geração de empregos” de todo o Nordeste, a segunda do Brasil. O Maranhão, com o governador comunista Flávio Dino, assiste a uma verdadeira revolução de prioridades, de prestação de serviços para a população, de costumes e de probidade.
Ao fim dos governos Lula e Dilma, verificou-se que, ao lado das conquistas sociais, permaneceram problemas estruturais graves. Sobreveio a crise. Um surto de corrupção foi identificado e no seu combate aparece uma manipulação política abusiva que selecionava corruptos a serem presos e outros a serem acobertados. O germe de um Estado de exceção foi surgindo, com setores do Ministério Público, da Polícia Federal, do Judiciário e da grande Mídia.
Parcelas da população foram sendo envolvidas em falsa campanha moralista, que encobria seus verdadeiros desígnios, o de tirar direitos do povo e enfraquecer o aspecto nacional das empresas que aqui operam. No desdobramento dessas invectivas vem o impeachment da Dilma.
O governo de Temer que se segue, não chega a despertar a mais leve esperança.  Procura rápido realizar reformas reacionárias neoliberais que sacrificam o povo e engessam o futuro do pais. A insatisfação cresce, mas, segmentos populares, enganados e desnorteados, por vezes assumem a defesa de posições retrógradas, algumas de cunho fascista. Os grupos que participam do Estado de exceção aproveitam-se dessa  desorientação para tentar dar legitimidade ao arbítrio, pondo em lei a redução do papel do habeas corpus, a legalização de provas ilícitas, a remuneração de “dedos-duros” e, o que é mais grave, a exclusão dos Juízes e Procuradores do alcance da lei que coíbe abusos, que pode atingir todas as autoridades menos a eles.
Faz-se necessário por um fim a esse governo ilegítimo e permitir ao povo eleger um novo presidente da República.
E aí é que aparece a grande novidade: o PCdoB decide construir uma candidatura própria para essa eleição.
A longa bagagem de lutas acima referida é a origem do fecundo aprendizado que nos dá a convicção de que não há saída para o país fora da defesa firme de um projeto de Nação soberana, desenvolvida e democrática, onde os direitos do povo sejam respeitados.
O escolhido para cumprir a honrosa tarefa de ser o candidato do Partido à presidência sabe que, só com a força dos comunistas, ou de grupos de esquerda, ou de toda a esquerda, ou dos movimentos sociais, não terá condições de ir muito longe. O projeto é de Nação, o que requer a constituição de uma Frente Ampla, com múltiplos setores, de trabalhadores a empresários, de políticos a personalidades sem partido, de intelectuais ao povo em geral.
A pessoa que vier a ser indicada para disputar a presidência da República pelo PCdoB escreverá seu nome como o segundo homem candidato a presidente da República na história do Partido. Porque, em 1946, o Partido já lançara  Yedo Fiúza, prefeito de Petrópolis, como seu candidato à presidência. O Partido mal saíra da clandestinidade e Fiúza teve 10% dos votos. Foi considerado um êxito.
A decisão do Comitê Central do Partido de ir construindo uma candidatura à presidência da República lança uma raio de esperança em meio ao ambiente conturbado que hoje predomina. Vem ao encontro do anseio de muita gente, que há tempos nos pressionava para que o Partido lançasse um candidato próprio à presidência.
Pois agora o Partido se prepara para lançar o dito candidato. Foi o que deliberou o pleno de seu Comitê Central, na tarde ensolarada de 04 de dezembro, dia em que amplos  segmentos da população brasileira homenageiam Santa Bárbara, a mulher turca decapitada por não renegar a sua fé cristã, e também Iansã, a Orixá guerreira, senhora dos ventos e das tempestades, que se relaciona com gente de todas as cores, mas que se veste de vermelho.
Haroldo Lima é membro da Comissão Política Nacional do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.

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