Uma grande novidade
Haroldo Lima, no Blog do Renato
O mundo político
brasileiro recebe uma notícia verdadeiramente inovadora: o PCdoB decidiu
construir uma candidatura própria a presidente da República para as próximas
eleições.
Os que sonham com
um futuro novo para nosso país enchem-se de esperança, porque o partido dos
comunistas levará para sua candidatura à presidência da República uma bagagem
histórica monumental.
Quando foi
fundado, em 1922, em Niterói, abraçado com a idéia do socialismo, as forças
dominantes do Brasil não permitiram que o Partido se legalizasse. Quando a
legalidade foi conseguida, em 1927, foi por um breve
período.
Pelos meados de
1930, o Partido incorpora uma liderança que já era lendária, Luis Carlos
Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, do romance de Jorge Amado. E se integra em
batalhas políticas numerosas. Acertou muitas vezes, errou outras tantas.
Derrotado o
fascismo na II Guerra Mundial, com a participação extraordinária dos comunistas
do mundo inteiro, principalmente da União Soviética, não havia como manter os
comunistas brasileiros na ilegalidade. Ao sair das catacumbas, o Partido vai às
eleições de 1946, elege 14 deputados federais e um senador, Prestes, com
votação espetacular.
Campanhas
diversas se sucedem, como a d’ “O petróleo é nosso”, liderada pelo general
Felicíssimo Cardoso, que se definia como “general e comunista”, e que levou à
criação da Petrobras. Passa-se pelo governo de Jango e chega-se à ditadura de
1964.
Aí o Partido
aprofunda sua clandestinidade para resistir. Convicto de que todos os canais de
atuação política estavam fechados, organiza a guerrilha do Araguaia.
Derrotada a guerrilha,
reexamina o quadro político, vê a ditadura desgastada e centra sua atividade na
luta por anistia, revogação de atos e leis de exceção e por uma constituinte
livremente eleita.
Na eleição de
1982, depois da anistia, o Partido elege alguns deputados na legenda do Dr.
Ulisses, o PMDB. Vem a campanha das Diretas Já, de cuja direção o Partido
participa.
Inviabilizada as
Diretas, houve momentâneo impasse. Articula-se o grupo “Só Diretas” e o PT
anuncia que não irá ao Colégio Eleitoral. Há dúvidas e incertezas na esquerda.
Foi quando o
Partido se levanta, pela voz de João Amazonas, o homem do Araguaia, que em
memoráveis reuniões em Brasília assevera: para derrubar a ditadura fomos ao
Araguaia e não conseguimos derrubá-la; demos tudo pelas Diretas Já e perdemos;
mas agora a ditadura está cambaleante; com um nome de prestígio, comprometido
com a democracia, podemos ir ao Colégio Eleitoral, derrotar o candidato do
regime, fechar o Colégio e por fim à ditadura. O “Só Diretas” se desfez. O
Amazonas foi a Belo Horizonte ajudar a convencer ao Tancredo da correção dessa
luta. E assim a ditadura terminou.
Novos ares, o
Partido se legaliza e cresce no cenário nacional e nos movimentos sociais.
Apóia os governos
de Lula e de Dilma e dá força para as políticas públicas então implantadas, que
permitiram uma inclusão social até então desconhecida no Brasil. Participa
desses governos, dando contribuições substanciais na Articulação Política, na
Ciência e Tecnologia, na Defesa, na área energética e na de cinema.
Sua experiência
administrativa fez com que Aracajú, sob a gestão comunista de Edivaldo
Nogueira, recebesse o título de “Cidade com melhor qualidade de vida” do país,
e Juazeiro da Bahia, em 2015, com o prefeito comunista Isaac Carvalho, chegasse
a ser a “Cidade com maior geração de empregos” de todo o Nordeste, a segunda do
Brasil. O Maranhão, com o governador comunista Flávio Dino, assiste a uma
verdadeira revolução de prioridades, de prestação de serviços para a população,
de costumes e de probidade.
Ao fim dos governos
Lula e Dilma, verificou-se que, ao lado das conquistas sociais, permaneceram
problemas estruturais graves. Sobreveio a crise. Um surto de corrupção foi
identificado e no seu combate aparece uma manipulação política abusiva que
selecionava corruptos a serem presos e outros a serem acobertados. O germe de
um Estado de exceção foi surgindo, com setores do Ministério Público, da
Polícia Federal, do Judiciário e da grande Mídia.
Parcelas da
população foram sendo envolvidas em falsa campanha moralista, que encobria seus
verdadeiros desígnios, o de tirar direitos do povo e enfraquecer o aspecto
nacional das empresas que aqui operam. No desdobramento dessas invectivas vem o
impeachment da Dilma.
O governo de
Temer que se segue, não chega a despertar a mais leve esperança. Procura
rápido realizar reformas reacionárias neoliberais que sacrificam o povo e
engessam o futuro do pais. A insatisfação cresce, mas, segmentos populares,
enganados e desnorteados, por vezes assumem a defesa de posições retrógradas, algumas
de cunho fascista. Os grupos que participam do Estado de exceção aproveitam-se
dessa desorientação para tentar dar legitimidade ao arbítrio, pondo em
lei a redução do papel do habeas corpus, a legalização de provas ilícitas, a
remuneração de “dedos-duros” e, o que é mais grave, a exclusão dos Juízes e
Procuradores do alcance da lei que coíbe abusos, que pode atingir todas as
autoridades menos a eles.
Faz-se necessário
por um fim a esse governo ilegítimo e permitir ao povo eleger um novo
presidente da República.
E aí é que
aparece a grande novidade: o PCdoB decide construir uma candidatura própria
para essa eleição.
A longa bagagem
de lutas acima referida é a origem do fecundo aprendizado que nos dá a
convicção de que não há saída para o país fora da defesa firme de um projeto de
Nação soberana, desenvolvida e democrática, onde os direitos do povo sejam
respeitados.
O escolhido para
cumprir a honrosa tarefa de ser o candidato do Partido à presidência sabe que,
só com a força dos comunistas, ou de grupos de esquerda, ou de toda a esquerda,
ou dos movimentos sociais, não terá condições de ir muito longe. O projeto é de
Nação, o que requer a constituição de uma Frente Ampla, com múltiplos setores,
de trabalhadores a empresários, de políticos a personalidades sem partido, de
intelectuais ao povo em geral.
A pessoa que vier
a ser indicada para disputar a presidência da República pelo PCdoB escreverá
seu nome como o segundo homem candidato a presidente da República na história
do Partido. Porque, em 1946, o Partido já lançara Yedo Fiúza, prefeito de
Petrópolis, como seu candidato à presidência. O Partido mal saíra da
clandestinidade e Fiúza teve 10% dos votos. Foi considerado um êxito.
A decisão do
Comitê Central do Partido de ir construindo uma candidatura à presidência da
República lança uma raio de esperança em meio ao ambiente conturbado que hoje
predomina. Vem ao encontro do anseio de muita gente, que há tempos nos
pressionava para que o Partido lançasse um candidato próprio à presidência.
Pois agora o
Partido se prepara para lançar o dito candidato. Foi o que deliberou o pleno de
seu Comitê Central, na tarde ensolarada de 04 de dezembro, dia em que
amplos segmentos da população brasileira homenageiam Santa Bárbara, a
mulher turca decapitada por não renegar a sua fé cristã, e também Iansã, a
Orixá guerreira, senhora dos ventos e das tempestades, que se relaciona com
gente de todas as cores, mas que se veste de vermelho.
Haroldo Lima é membro da Comissão Política Nacional do
Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.
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