Luciano
Siqueira, no portal Vermelho
Diz Galeano que nossa memória sabe mais de nossas vidas
do que nós mesmos. A memória se encarrega de guardar o que verdadeiramente
importa.
O escritor uruguaio deve estar certo. Mas há uma
contrapartida que assalta ao espírito de todo ser vivente: bem que gostaríamos que
algumas dessas coisas que “verdadeiramente importam” fossem apagadas para
sempre ou, pelo menos, estivem contidas em lugar recôndito e de difícil acesso.
É isso que atestam milhões de homens e mulheres que se autoproclamam ébrios
para esquecer.
Mas
eis que cientistas britânicos trabalham em sentido inverso. Não bastasse o
tormento de reminiscências dolorosas, agora se cria um tipo de exame cerebral
capaz de prever, por exemplo, trechos de filmes nos quais o expectador deverá
pensar depois. O estudo, realizado na University College de Londres, informa
sobre como as memórias são registradas no cérebro. Talvez com um pouco mais de
aprimoramento, tenhamos nossa cuca devassada.
A
descoberta pode ser útil para superar a perda de memória motivada por doença degenerativa
ou agravo físico – contribuindo, assim, para melhorar a qualidade de vida de
muita gente.
Bom
seria, entretanto, que a doutora Eleanor Maguire, que comanda o estudo, e seus
colaboradores inventassem técnicas igualmente eficientes em sentido inverso,
tornando possível identificar antecipadamente partes negativas de nossa
existência passíveis de esquecimento. O cara iria à luta já sabendo que
determinados infortúnios seriam futuramente deletados da memória – por exemplo,
em casos de amores malsucedidos. Ficariam apenas as boas lembranças, enquanto
dores e dissabores seriam movidos para uma espécie de buraco negro da mente de
onde jamais sairiam.
Assim
sendo, já não se beberia tanto para esquecer; antes para comemorar ou reviver
as coisas boas vividas.E seguiríamos adiante na fascinante e desafiadora
aventura da vida desfrutando dos prazeres da memória seletiva.
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