Liverpool e Tottenham
foram união de alto nível com explosão emocional
Os atletas não são feitos só de
ossos, músculos e outras estruturas anatômicas; têm também sentimentos
Tostão, na Folha
de S. Paulo
Nesta semana, houve viradas espetaculares, com grande número de
gols. Tottenham e Liverpool farão
a final da Liga dos Campeões da Europa, enquanto Chelsea e
Arsenal disputarão o título da Liga Europa. É um grande momento
do futebol inglês.
Lucas Moura,
um bom coadjuvante, substituto do craque Kane, foi a estrela improvável da
vitória do Tottenham sobre o Ajax.
Após longo tempo de futebol descontraído, imprevisível,
espontâneo e prazeroso, o jogo se transformou, progressivamente, nas últimas
décadas, evolução que não vai parar, em um esporte tático, científico,
estratégico e estatístico. Continuou agradável, mais competitivo, mas com a
tendência de ficar excessivamente planejado, frio e previsível, como se tudo
pudesse ser treinado e repetido. O sonho de muitos treinadores é acabar com o
imponderável, com o acaso.
Liverpool e Tottenham mostraram o que sempre ocorreu
ocasionalmente, que se pode unir o jogo organizado, coletivo, de alto nível e
equilibrado com a explosão emocional, a superação e muitos gols.
Foi o encontro da técnica, simbolizada no corpo, com a alma. O
corpo é o signatário, a sombra da alma.
Treinadores, como Jürgen Klopp, Mauricio Pochettino e tantos outros da história, brasileiros e estrangeiros, são importantes nesses momentos de emoção e de superação. São, junto com os torcedores, os catalisadores, que incendeiam a alma dos atletas.
Treinadores, como Jürgen Klopp, Mauricio Pochettino e tantos outros da história, brasileiros e estrangeiros, são importantes nesses momentos de emoção e de superação. São, junto com os torcedores, os catalisadores, que incendeiam a alma dos atletas.
A marcação por pressão em todo o campo, desde a saída de bola do
goleiro, é o elo entre a estratégia e o estilo aguerrido, agressivo. Foi o que
fizeram Liverpool, em todo o jogo, e Tottenham, no segundo tempo.
Quando um jogador do Barcelona ou do Ajax recebia a bola, havia
sempre alguém para tomá-la e, rapidamente, passá-la a um companheiro já perto
do gol, com a defesa desprotegida. Isso é cada vez mais frequente nas grandes
equipes. Essa postura inflama o time e os torcedores, que inflamam ainda mais
os jogadores.
Há um conceito generalizado de que não dá para marcar por
pressão durante toda a partida, por causa do desgaste físico. É verdade, mas
depende do delírio emocional e da capacidade de executar bem o que foi
planejado. O Liverpool tem feito isso em várias partidas seguidas, durante todo
o tempo, poupando dois ou três jogadores a cada jogo.
No Brasil, os times começam a adotar essa postura ainda
timidamente. O Palmeiras é o que tem feito melhor essa marcação, embora, quando
faz um gol, recua para fechar os espaços. O Liverpool e outros times fazem um e
querem fazer mais. São duas posturas diferentes.
A maioria das equipes brasileiras, como o Cruzeiro, prefere,
quando perde a bola, recompor e fechar os espaços. Não quer correr o risco de
avançar a marcação e deixar buracos na defesa.
Em jogos de mata-mata, contra adversários do mesmo nível
técnico, essa postura segura funciona muito bem. É uma das razões de o
Cruzeiro, de Mano Menezes, ser o atual bicampeão da Copa do Brasil.
O futebol é muito complexo. Nós é que tentamos simplificá-lo com
nossas racionalizações. Assim também é a vida. O ideal de uma equipe é usar as
duas estratégias, alternadamente, em um mesmo jogo, de acordo com o momento.
Não tem de ser, obrigatoriamente, uma coisa ou outra.
Os atletas, como todos os seres humanos, não são feitos somente
de ossos, músculos, tendões, cartilagens e outras estruturas anatômicas.
Possuem também sentimentos, dúvidas, fantasmas, contradições.
“Não sois máquinas, homens é que sois” (Charlie Chaplin).
(Ilustração: Renders 10)
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