15 junho 2019

Poesia sempre


Tateio
Hilda Hilst

Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.


Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.


Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.

[Ilustração: Jane Eccles]

Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2QHuOWq
Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF

Nenhum comentário: