Os apressados já decretaram que a seleção é melhor sem Neymar
Tostão, na
Folha de S. Paulo
Uma das maiores dificuldades do ser humano, principalmente neste
momento de polarização, é enxergar o outro lado, o que não é espelho, ser um
observador neutro. Com isso, aumenta bastante o número de pessoas tendenciosas
e sem bom senso.
Criticamos a qualidade de jogadores, treinadores e times
brasileiros, mas não podemos deixar de reconhecer as boas coisas, as tentativas
de se fazer algo novo e diferente. Existe uma transformação em nosso futebol,
com uma pluralidade de estilos, o que será positivo mais à frente.
Não podemos também ter a pretensão de achar que o que é bom é
apenas o que pensamos e gostamos.
Não tenho admiração pelo estilo do Palmeiras, de jogo mais
direto e de pouca troca de passes, mas reconheço a qualidade da
equipe e deFelipão.
Admiro a maneira inovadora de Sampaoli,
na tentativa de jogar um futebol ofensivo e agradável, o que não significa que
ele não seja responsável por equívocos individuais e coletivos, talvez por
causa de sua agitação durante os jogos.
O Brasil, fora Neymar,
não tem um grande craque do meio para frente, que esteja entre os melhores do
mundo em suas posições, mas possui excelentes jogadores, em condições de formar
uma equipe forte, capaz de ganhar a Copa América ou qualquer outra competição.
A seleção sem Neymar é
muito melhor que a da Argentina sem Messi.
Por causa de um
único jogo, a goleada por 7 a 0 sobre a fraquíssima
Honduras, que atuou a maior
parte do tempo com um a menos, os apressados, os “entendidos”, os que têm pouco
conhecimento, os que misturam o comportamento
de Neymar fora e dentro de campo e os que não gostam de craques
já decretaram que a seleção, sem Neymar, é melhor, porque joga um futebol mais
coletivo, como se Neymar
atrapalhasse o conjunto. O
Brasil, para ter um grande time, precisa de organização tática e de Neymar.
Nos dois amistosos, além da ótima marcação por pressão, da
mudança tática em relação ao Mundial, com Coutinho jogando livre, pelo centro e
mais próximo do centroavante, os dois laterais brasileiros atuaram mais por
dentro, armando as jogadas, como no Manchester City, com Guardiola. Isso será
mais bem avaliado quando o Brasil enfrentar times mais fortes e que atacam
pelos lados.
Na Copa, critiquei bastante o posicionamento de Coutinho,
no meio-campo, formando um trio com Casemiro e Paulinho. Além de não ter força
física e intensidade para atuar de uma área à outra, Coutinho não ajudava
Marcelo na marcação pela esquerda. Agora, no novo esquema,
com o lateral sendo protegido pelo atacante que joga pelo lado (David Neres),
Marcelo ficou fora, um desperdício.
A seleção, com Tite, Felipão e Dunga, sempre foi muito bem antes
das últimas Copas do Mundo, principalmente nos amistosos, por jogar com
seriedade e por não fazer testes, com o objetivo de vencer todas as partidas. O
Brasil é o campeão mundial de amistosos.
[Ilustração: Aldemir Martins]
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