25 junho 2019

Afundando precocemente


Inferno astral em apenas seis meses
Luciano Siqueira

Como todo governo no início, natural que as expectativas positivas fossem majoritárias na população, em geral desinformada quanto à agenda econômica do governo Bolsonaro.

O mercado, então, este mais do que esclarecido, mentor dessa agenda, alimentava a ilusão de que o estilo autoritário-atabalhoado do novo presidente, e a maioria eleitoral obtida nas urnas, o credenciassem a um êxito que Michel Temer não foi capaz de obter.

Além disso, pesava uma espécie de “tradição” brasileira de recuperação relativamente rápida das atividades econômicas, pós-recessão.

Agora, seis meses passados desde a posse de Bolsonaro e da entronação de Paulo Guedes e seus Chicago Boys no pretenso superministério da Economia, as sucessivas previsões do PIB recuam sucessivamente.

Essa equipe econômica, de modo incrivelmente burro – como assinalou em artigo recente o economista Luiz Gonzaga Belluzzo -, aposta todas as fichas num suposto equilíbrio das contas públicas, tendo como pedra de toque uma imaginada retenção de recursos através da reforma da 
Previdência.

E quanto mais se restringem os investimentos públicos, mais a economia afunda.

Investidores privados se retraem, a indústria perde competitividade e se atrasa em inovação, os serviços também encolhem, o desemprego aumenta e o consumo idem.

Entrementes, o presidente da República coleciona declarações e gestos sem nexo, ou com o único nexo de satisfazer os chamados “nichos” de apoio com que conta entre os cerca de vinte por cento da população efetivamente situados à direita.

Alguns analistas chegam a dizer que essa “estratégia” do presidente traduz o seu instinto de sobrevivência, na medida em que se sente ameaçado pelo fracasso administrativo.

Como assim?

Se em apenas um semestre o governante já se vê angustiado em razão de sua própria incompetência, aonde iremos chegar?

Na verdade, são muitos os fatores de estremecimento das bases do atual governo, em geral endógenos.

Falta rumo, grandeza e habilidade. Inclusive falta a compreensão de como devem ser as relações entre os chamados poderes da República.

Tanto que, de modo precariamente contraditório, o governo conta com maioria numérica no Parlamento, mas não constrói sua base de sustentação parlamentar.

E agora, como uma espécie de pano de fundo de caráter explosivo, as revelações do site Intercept_ acerca do comportamento ilegal e politicamente fraudulento do então juiz, hoje ministro Sergio Moro e procuradores da força tarefa da Lava Jato, chamuscam o presidente beneficiário das irregularidades judiciais que afastaram o ex-presidente Lula das eleições de outubro.

Será isso o que se chama de inferno astral?

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