26 junho 2019

Futebol em mutação


Quem diria que não há favorito entre Argentina e Venezuela?
Tostão, na Folha de S. Paulo

O Brasil tem mostrado muitas virtudes, mesmo contra a Venezuela, quando empatou por 0 a 0. A equipe pressiona e recupera rapidamente a bola, troca muitos passes e faz boas inversões, o que facilita para os atacantes pelos lados, abertos, que ficam apenas contra um marcador. Everton tem aproveitado isso, com belos lances.
Não gostei da escalação de Gabriel Jesus pela ponta, contra o Peru, aberto, mas ele jogou bem. Pela direita, não acredito que será a melhor solução.
A seleção, sem Marcelo, passou a ter um lateral mais marcador (Filipe Luís). Por outro lado, contra fortes defesas, como a da Venezuela, Marcelo fez falta, por seu enorme talento ofensivo. O cobertor é curto.
Daniel Alves, contra o Peru, deu um show de técnica. Porém, na Copa, estará com 39 anos, e não há um bom substituto. É preciso pensar também na frente.
Arthur, com seu estilo de domínio da bola e de passes precisos, se evoluir individualmente, pode dar à equipe a qualidade que não teve nos últimos tempos. Nessa formação, com dois volantes e um meia ofensivo, Arthur joga como gosta e sabe, sem precisar avançar tanto, como teria de fazer se o time atuasse com um trio no meio-campo, com um volante e dois armadores que atacam e defendem, como na última Copa do Mundo.
Coutinho, depois da Copa, passou a jogar mais adiantado, pelo centro. Ele atua mais perto do gol. Por outro lado, fica espremido entre as duas linhas de marcação, a do meio-campo e a da defesa, sem espaço para driblar e finalizar, como gosta. O cobertor é curto. Quando Neymar voltar, se Everton continuar brilhando, Tite terá a opção de escalar Neymar no lugar de Coutinho ou os três: com Everton pela direita, Coutinho pelo centro e Neymar pela esquerda, o que é o mais provável.
Contra o Paraguai, Casemiro estará fora, como no Mundial, contra a Bélgica, quando também foi substituído por Fernandinho. Não é surpresa. Casemiro faz muitas faltas. Se jogasse no Brasil, estaria, com frequência, suspenso.
Quem diria que não há favorito entre Argentina e Venezuela? A Argentina está ruim, coletivamente e individualmente, mesmo com Messi, e a Venezuela não é mais o time bobo de outras épocas. Em 1969, nos dois jogos pelas eliminatórias da Copa de 1970, vencidos pelo Brasil, por 6 a 0 e por 5 a 0, fiz seis gols, três em cada jogo. Aproveitei a moleza para aumentar meu prestígio. Agora é diferente.

MISTÉRIOS - É cada dia mais difícil entender o que querem os clubes e as seleções e o que pretendem os técnicos. Virou rotina, no Brasil e em todo o mundo, o repórter ter acesso aos treinos durante os 15 minutos iniciais, quando os jogadores estão se aquecendo ou brincando, à espera da saída da imprensa.

As informações são apenas as oficiais. O repórter, se não for crítico e não ficar atento, torna-se, sem perceber, participante da assessoria dos clubes e das seleções. Muitos correm atrás de outras notícias. A falta de informações é um estímulo para os boatos. Comentaristas, durante a partida, ficam na dúvida se a jogada foi ensaiada ou se foi uma improvisação.
Dirigentes e comissões técnicas escondem o produto, em vez de promovê-lo. Preferem o mistério. Querem fazer do futebol algo incompreensível, como se apenas os técnicos pudessem saber os detalhes. É também um álibi para treinadores esconderem suas deficiências. Seria como, diante de uma crítica, refutá-la com o argumento de que o comentarista não sabe o que está dizendo.
[Ilustração: Jessica Martins]
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