Arrogância e fragilidade
Luciano Siqueira
Luciano Siqueira
Por palavras e atos do próprio presidente e dos seus acólitos, o
governo esbanja arrogância, mas não consegue esconder suas fragilidades.
As pesquisas – que andam rarefeitas ultimamente – já revelaram
que o governante já não conta com o apoio de boa parte dos que o escolheram em
outubro. Perde popularidade com invulgar rapidez.
Seus dois auxiliares antes apontados como “super” numa equipe
ministerial sofrível – Sergio Moro e Paulo Guedes – se vêem chamuscados e com
credibilidade em baixa.
O ministro da Economia, pela ausência de alternativas à crise
econômica e a insistência no samba de uma nota só – a reforma da Previdência
como solução para a retomada do crescimento econômico. Nem os mais exaltados
defensores da reforma acreditam nisso.
O da Justiça a cada dia perde credibilidade e encolhe a empáfia,
constrangido às cordas do ringue pelas revelações do Intercept_ Brasil. A
solidariedade axaltada da extrema direita, que de vez em quando vai às ruas aos
domingos destilar ódio e preconceito, é insuficiente para quem tem, ou tinha,
pretensões tão altas.
Agora, esse caso do sargento da Aeronáutica pilhado com 39kg
cocaína no avião presidencial surge como emblemático da vulnerabilidade de um
governo que exibe tanta presunção autoritária.
No mínimo mais um vexame internacional.
O presidente e sua comitiva, como que nocauteados e ainda
tontos, através do porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, fez
questão de dizer que “o presidente, o Ministério da Defesa, o comando da Força
Aérea, não admitem em hipótese alguma nenhum procedimento desse tipo...”.
Patético.
A imprensa que cobriu a chegada da comitiva presidencial ao
Japão deve ter se surpreendido. Quando um governante precisou afirmar assim tão
solenemente que não admite que integrantes do seu cortejo trafiquem drogas?
Já o vice-presidente no exercício do cargo, general Mourão,
afirmou que o sargento é uma “mula qualificada”.
“Mula”, na linguagem dos traficantes, é o portador que se
arrisca com certa porção de drogas proibidas, enquanto a verdadeira operação se
dá em paralelo.
Enquanto a “mula” é flagrada e atrai todas as atenções da polícia, a remessa maior acontece impune.
Enquanto a “mula” é flagrada e atrai todas as atenções da polícia, a remessa maior acontece impune.
Em ótimo artigo recente aqui no Vermelho (“A luta democrática e
o abuso de autoridade”), Ronald Freitas assinalou muito bem que este governo
tem como um dos seus pilares o esquema que se armou para interromper o ciclo
progressista Lula-Dilma e instaurar “uma nova vertente poder paralelo e abuso
de autoridade e intervenção política com aura jurídica e apoio político, tendo
como centro a bandeira do combate à corrupção”.
Daí a arrogância e a exibição pretensiosa de uma nítida sensação
de que pode tudo. “Eu tenho a caneta”, disse Bolsonaro recentemente numa de
suas turras com o Congresso.
A frágil vigilância, ou a falta dela, na própria comitiva
presidencial em viagem ao exterior dá a medida do quanto essa arrogância se
apoia em bases frágeis.
Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2Fmldjc
Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF
Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF
Nenhum comentário:
Postar um comentário