28 maio 2020

Desde 70 se cuidava da ocupação do meio campo


Seleção de 1970 opõe admiradores àqueles que não acham time tão bom

Nelson Piquet falou, certa vez, que gostava mais da equipe de 1994

Tostão, na Folha de S. Paulo

Enfim, vi um ótimo jogo ao vivo, o clássico alemão entre Borussia Dortmund e Bayern de Munique. Vitória por 1 a 0 do Bayern, em um jogo equilibrado, que teve até torcida virtual, dos dois lados, produção da federação alemã.
O gol foi belíssimo, do jovem meio-campista Kimmich, um dos destaques do time e da seleção alemã. Teve também a colaboração do goleiro. O Bayern não tem volantes. São dois meio-campistas, que marcam, organizam e avançam no momento certo. Foi uma partida quase toda jogada com dois toques, com poucos dribles, características do estilo alemão. Faltou ao Borussia a sua imensa torcida, a real, uma das mais vibrantes do mundo.
No último dia 25, o acervo da Folha mostrou, que, há 50 anos, o jornal publicou a seguinte manchete: “A seleção vence o último teste antes da Copa do Mundo”. Falou ainda que o time jogou em ritmo lento, na vitória por 3 a 0 sobre o Irapuato, do México.
Antes do jogo, a seleção já estava escalada para o Mundial, e Zagallo aproveitou para fazer várias mudanças. A impressão que todos nós tínhamos, jogadores e comissão técnica, era a de que a equipe tinha evoluído bastante nos treinamentos e que estava em condições de brilhar no Mundial. A dúvida era na comparação técnica com as três favoritas: Inglaterra, Itália e Alemanha.

Ficamos dois meses e meio no México, a maior parte do tempo em Guadalajara, onde jogamos as cinco primeiras partidas, por termos sido o primeiro de nosso grupo. Em Guadalajara, nos hospedamos longe do centro. Parecia um hotel de encontros. Era simples e confortável. Na entrada, havia um grande refeitório, onde fazíamos também nossas reuniões. No centro do hotel, tinha uma piscina e, em volta, em forma de “U”, havia dois andares de apartamentos. Eu e Piazza ficamos juntos, como acontecia no Cruzeiro.

A cada semana, havia uma folga, que começava após o almoço e terminava às 23h do mesmo dia. Cada um fazia o que queria. Meus pais, que foram assistir ao Mundial, em uma companhia de turismo, me visitavam. Meu pai aproveitava para dar instruções técnicas e táticas e para criticar meus “chutinhos” a gol.
Treinávamos pela manhã e à tarde. Zagallo era obcecado por detalhes táticos. Usava uma mesa de botões para mostrar o posicionamento e a movimentação dos jogadores. Exigia que o time, quando perdesse a bola, tivesse os três do meio-campo (Clodoaldo, Gérson e Rivellino) à frente dos três defensores.
Se um dos três avançasse e não desse tempo para voltar, um dos três à frente (Pelé, Jairzinho ou eu) tinha que recuar para marcar. Jairzinho, com frequência, com sua velocidade, voltava pela direita e formava uma linha de quatro no meio-campo.
A ideia de Zagallo era repetir o esquema tático do Botafogo, de marcação mais recuada para contra-atacar. O time fez muito mais que isso. Inicialmente, os titulares seriam Roberto, de centroavante, e Paulo Cézar Caju, pela esquerda. Eu e Rivellino ganhamos as posições, nos treinos e nos amistosos.

Hoje, muitos jovens, que só assistiram às reprises da seleção de 1970, falam que o time era muito bom, excelente, mas não tanto quanto dizem. O piloto Nelson Piquet falou, certa vez, que gostava mais da seleção de 1994 que da de 1970. Já outras pessoas, geralmente mais velhas e/ou saudosistas, dizem que, quanto mais veem a seleção de 1970, mais ela fica melhor. Compreendo. Sempre que escuto as músicas antigas de Tom Jobim e de Chico Buarque gosto mais.

Fique sabendo https://bit.ly/3c6HtLo  Leia mais https://bit.ly/2Jl5xwF

Nenhum comentário: