31 maio 2020

Dúvidas em tempo de pandemia


Louca, a Ciência. Cega, a Fé
Alberto Salazar*

Em tempos de pandemia, lembrei-me de Teodorico Raposo, personagem eciano no livro A Relíquia, quando revela que “houve um momento em que me faltou esse descarado heroísmo de afirmar, que, batendo na terra com o pé forte, ou palidamente elevando os olhos aos céus - cria, através da universal ilusão, ciências e religião”. Heroísmo descarado que não tem faltado às autoridades, aos especialistas, leigos, não leigos, e toda sorte de “opineiros” de plantão.
Nunca a ciência foi tão aventada e avocada como tem sido por todo tipo de pessoas e entidades. São leigos, não leigos, administradores públicos, autoridades, sindicatos, conselhos, organizações não governamentais, órgãos públicos, governos e até organizações mundiais. Ciências posta à massa através de decretos, portarias, opiniões, lives, e difundidos pelas rádios, jornais, televisões, Facebook, WhatsApp, Instagram...
Os leigos, talvez os mais perdoáveis, pois como as crianças, que pouco conhecem, externam o que sentem. Os não leigos, esses se tornaram verdadeiros advogados, evocando certezas inabaláveis, baseadas em dados mais empíricos do que científicos. Já os administradores públicos, esses que deveriam, dado às equipes que possuem, tomarem decisões acertadas, mas, o que observamos é um verdadeiro bate-cabeça e uma série de medidas ilógicas, irracionais e sem propósito. O exemplo do fechamento de praias e parques, rodízio de veículos, sobrecarregando o transporte público, e só agora se aventa (ainda bem) o escalonamento de início e fim de setores das atividades econômicas. Uso de máscara obrigatório nas ruas e transportes públicos, ao tempo que proíbe atividades econômicas quando o óbvio mostra que o distanciamento entre pessoas é bem maior em qualquer ambiente de trabalho do que qualquer transporte público. Há cidades a quase três meses de quarentena, sem ter tido um único caso. É lógico que os aglomerados urbanos, regiões metropolitanas, cidades, distritos, terão curvas e picos distintos. A análise de comportamento das curvas e picos de outros países, comparativamente localidade a localidade (RM, cidades, vilas, distritos) deveria ter balizado o nosso planejamento, mas ainda está em tempo. Vamos nos acertar pela experiência dos outros. Faltou e falta coordenação central para os entes federados, como faltou também Estados para com seus municípios.
O achatamento da curva de contaminação seria para que as autoridades, federais, estaduais e municipais, pudessem se planejar para o atendimento aos contaminados, quando é sabido que vários municípios não adotaram ou não tiveram condições de adotar qualquer medida para o combate ao covid-19.
E assim são posicionamentos de sindicatos, conselhos, ONGs, órgãos públicos que ao sabor de interesses que aos olhos das pessoas não encontram razão.
E por fim a tão temida, a toda poderosa OMS, outra a bater cabeça e a provocar abalroadas mundo afora. Ao fim de tudo e após a vacina, saberemos se a OMS veio mais atrapalhar do que ajudar.
Dito o acima, lembre-me de outro português, o Pessoa, no poema Natal: “Cega, a Ciência a inútil gleba lavra. Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.”

Parodiando, direi: Louca, a Ciência vive o sonho do seu culto. Ainda que Cega, a Fé a útil (não inútil) gleba lavra.  

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* Alberto Salazar é Engenheiro civil, membro do IAHGP

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