Tricampeã
mundial, seleção brasileira de 1970 foi time quase perfeito
Além das qualidades,
havia um enorme desejo de superação nos jogadores
Tostão, na Folha de São Paulo
Dia 21 de junho, 50 anos atrás, o Brasil venceu a Itália por 4 a 1 e conquistou a Copa de
1970. Foi um grande time, mas não era perfeito. A perfeição só
existe em nossa imaginação.
O jogo não teve surpresas. Pelo contrário, como se esperava, a
Itália fez marcação individual, deixou um zagueiro na cobertura de outros
quatro defensores e se cansou no segundo tempo, como é frequente em times que
usam essa estratégia.
No intervalo, quando o placar estava 1 a 1, todos tinham a mesma
opinião, a de que, no segundo tempo, apareceriam os espaços, como aconteceu,
para vencermos o jogo.
Imediatamente após o término da
decisão, os torcedores mexicanos invadiram o gramado. Tiraram minha camisa, meu
calção, minhas meias e minhas chuteiras. Fiquei apenas de sunga. Se não fosse a
polícia mexicana, eu teria ficado nu, e a imagem seria repetida até hoje, para
sempre. Estaria perdido.
Além das qualidades técnicas, táticas e físicas, havia um enorme
desejo de superação por parte de alguns jogadores.
Pelé, que, nos anos anteriores, era também criticado por não
manter a mesma regularidade, se preparou muito para o Mundial, para que ninguém
tivesse mais dúvidas de que era o melhor de todos os tempos.
Rivellino, que nunca tinha sido campeão pelo Corinthians, queria ganhar o título. Jairzinho queria mostrar também que era um craque, e não apenas um atacante com muita força física e velocidade.
Rivellino, que nunca tinha sido campeão pelo Corinthians, queria ganhar o título. Jairzinho queria mostrar também que era um craque, e não apenas um atacante com muita força física e velocidade.
Eu tive de vencer várias dificuldades. Por causa da cirurgia no olho, corri riscos de
não ir ao Mundial e, depois, de não ser titular, já que
Zagallo, quando entrou no lugar de Saldanha, falou que eu seria o reserva de
Pelé, por atuarmos na mesma posição.
Nos últimos 50 anos, houve, em
todo o mundo, progressivamente, com evoluções e retrocessos, um grande
desenvolvimento científico e tecnológico, em todas as atividades, incluindo o
futebol, dentro e fora de campo.
Os europeus, por causa do maior crescimento da economia e das
melhorias dos problemas sociais, deram um salto à frente dos sul-americanos.
Melhoraram o planejamento dos campeonatos, a qualidade dos gramados e o conforto
dos estádios. Diminuíram a violência, dentro e fora de campo, e tentaram jogar
um futebol mais agradável e ofensivo. Investiram e tiveram retorno. Para isso,
foi fundamental a contratação dos melhores jogadores dos outros países.
Durante um longo período, houve também retrocessos, uma queda de
qualidade do jogo, em todo o mundo, por causa de disputas polarizadas entre o
futebol coletivo, tático e de resultados e o mais ofensivo, prazeroso, hábil e
de criatividade, como se o futebol eficiente não combinasse com a beleza do
espetáculo.
Recentemente, principalmente
nos últimos 15 anos, houve uma conciliação, influenciada pelo Barcelona de
Guardiola e por outros grandes times, e o futebol passou a ser, ao mesmo tempo,
ofensivo, criativo e eficiente. A prosa se uniu à poesia.
O futebol está mais emocionante e bem jogado, com estratégias
modernas. Na última semana, os goleiros Ter Stegen, do Barcelona, e o
brasileiro Ederson, do Manchester City, deram um show de belos e ótimos passes,
curtos, médios e longos.
Hoje, as grandes equipes unem a técnica, o domínio da bola e o
passe, símbolos do jogo coletivo, com a habilidade, a fantasia e o drible,
símbolos do jogo individual. Não é uma coisa nem outra. A radicalização
empobrece o futebol e a vida.
Essas dicas continuam válidas https://bit.ly/3dVOJM7
Nenhum comentário:
Postar um comentário