25 junho 2020

Sem compostura nem limites


Os crimes ambientais do bolsonarismo
Portal Vermelho www.vermelho.org.br

A grave confissão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na fatídica reunião ministerial de 22 de abril recheada de insultos e palavrões, mostra seus resultados. Na ocasião, ele mencionou a tática de aproveitar a pandemia para passar a boiada e mudar todo o regramento para simplificar as normas que regem a preservação ambiental, exatamente para facilitar a prática de crimes ambientais.
Na prática, Salles estava dizendo que o governo deveria facilitar ações nefastas como a grilagem de terras públicas e ocupação irregular de áreas de preservação. Já no ano passado a devastação ambiental provocou forte condenação nos planos nacional e internacional. Vários países até cortaram doações para fundos de desenvolvimento e proteção da Amazônia. Neste ano, os dados indicam que as queimadas são ainda maiores.
Agora, sete grandes empresas de investimento europeias disseram à agência de notícias Reuters que vão deixar de investir em produtores de carne, operadoras de grãos e até em títulos do governo do Brasil se não virem progresso rumo a uma solução para a destruição crescente da floresta amazônica. São investidores com mais de US$ 2 trilhões em ativos administrados.
Ou seja: a nova devastação da Amazônia expõe o país à retaliação econômica internacional, degradando ainda mais sua imagem. E agrava as condições econômicas do país, em meio ao prenúncio de uma severa recessão. Tudo isso em nome de uma pretensa autonomia sobre a região, que na verdade não passa de política deliberada de estímulo a ações de foras da lei que promovem a destruição ambiental.
É claro que a soberania nacional sobre a Amazônia brasileira não deve ser negociada sob nenhuma hipótese. Mas no caso em tela não é disso que se trata. Ao incentivar a devastação criminosa da floresta, Bolsonaro fragiliza o país na arena internacional e o expõe a investidas de cunho imperialista, camufladas com discurso ambiental.
Bolsonaro tem insistido na tese de que o Brasil precisa consolidar a sua fronteira agrícola, uma confissão de que o meio ambiente é secundário nessa relação. É uma falsa dicotomia, mesmo desconsiderando a tentativa do ministro Salles de dar boa vida aos que praticam crimes ambientais, como se não restasse alternativa senão destruir o meio ambiente para produzir alimentos.
É a falsa contradição entre preservação ambiental e a produção agrícola em larga escala, que ainda hoje fomenta o discurso vil de governantes como Bolsonaro e Salles. O Brasil possui totais condições de realizar um desenvolvimento econômico pujante e compatível com a preservação ambiental. E precisa cumprir a determinação legal de que a floresta não é lugar de criminosos ambientais.
Na Amazônia, 23% da floresta em terras públicas não destinadas são registradas ilegalmente como propriedades privadas, segundo levantamento do Instituto Pesquisa Amazônia (Ipam) e do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA). O percentual representa 11,6 milhões de hectares de florestas públicas “tomadas” ao longo de 21 anos (1997-2018). Ao todo, a Amazônia tem 49,8 milhões de hectares de florestas sem destinação.
Por conta da conivência bolsonarista, a floresta está a cada dia mais vilipendiada. É a repetição do desenvolvimentismo néscio dos anos de ditadura militar, que enxergava na Amazônia uma enorme seara para ser ocupada desordenadamente. Nos anos 1970 e 1980, o regime empurrou muitas vítimas da concentração de terra para aquela região.
Junto com elas foram muitos aventureiros que viram nesse gesto dos governos militares a oportunidade de expandir suas fronteiras latifundiárias para o norte do país — cortando árvores e destruindo ecossistemas mais antigos do que a própria humanidade. Aquele quadro foi de certa forma corrigido com leis e diretrizes administrativas, que agora o governo Bolsonaro, como disse o ministro Salles, quer revogar.
O governo Bolsonaro é um desastre de a ponta a ponta: mais 50 mil mortes pela Covid-19, recessão econômica prevista em 8%, crise política e institucional e, como se expôs, é irresponsável, negligente, criminoso também na proteção e defesa do meio ambiente.
Em ambiente de crise a luta segue https://bit.ly/3fd2YMs

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