Prontidão
e diligência
Rogério Morais*
“Quando tinha 7 anos, eu presenciei meu pai tentando matar minha mãe, então eu parti para cima dele. Foi quando ele parou de bater na minha mãe e me jogou na parede... eu já não era mais o filho que ele gostava”. Este é um dos relatos que o paciente Antônio Feliciano, diagnosticado com a Covid-19, escreveu quando esteve internado por treze dias na enfermaria do Hospital Provisório do Recife 2, nos Coelhos. Aos 58 anos, além dos traumas da violência doméstica, a sua vida foi marcada pela situação de rua, vivenciada desde sua adolescência, que inclui o consumo de drogas.
Durante o seu período de internamento, o típico caderno capa dura, de tamanho grande e cor verde – que recebeu o título de “Pensamentos de um menino” – serviu de diário e foi o seu instrumento de refúgio emocional. Com um quadro de complicações respiratórias e hipertensão apresentado, além dos cuidados médicos, Antônio recebeu todo acompanhamento dos profissionais da equipe de psicologia e serviço social, que se estendeu até o dia de sua alta.
Este é o relato de um sobrevivente, dos mais de 1.000, nos sete hospitais de campanha criados pela Prefeitura do Recife durante a pandemia da Covid-19. E cada vida salva é um infinito, pois não se pesa estatisticamente o valor de uma vida humana. Seu Antônio escreverá novas páginas no seu destino. E essa história somente pôde ter a chance de ter continuidade, devido a duas competências decisivas da reação do município frente aos desafios: prontidão e diligência.
A prontidão de estar atento para montar um comitê de enfrentamento ao vírus ainda em janeiro; de ser a primeira capital a suspender as aulas, antes mesmo da consolidação do consenso sobre a emergência da medida; e das comunicações diárias de forma clara e verdadeira, estabelecendo a confiança que garantiu o comprometimento social necessário da população para termos os maiores percentuais de isolamento.
A diligência de processar contratações de novos profissionais, de adquirir Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e respiradores, articular doações com uma grande rede de solidariedade. Velocidade que, em comparação com outras cidades, aponta para um volume de entregas muito acima da média, de tal maneira que o sucesso para orquestrar soluções despertou uma necessidade de críticas, onde a gana do poder pelo poder se sobrepõe à necessidade de aliança por um progresso compartilhado, pelo bem comum.
O enfrentamento da pandemia é o desafio de governabilidade e prestação de contas mais próximo de uma guerra que vivemos. Agir no caos exige da liderança senso inerente de democracia e a prática amadurecida de princípios ainda incipientes no país do modelo de uma Administração Pública Societal. O bom combate não pode jamais perder de vista a premissa de uma gestão mais social, participativa e focada nas necessidades dos mais vulneráveis, principalmente no país democrático mais desigual do mundo.
Assim, compreendendo que problemas complexos não podem ser solucionados com uma lógica linear cartesiana, entendo que a postura da gestão municipal da Prefeitura do Recife deixará, sob uma análise positiva, sem julgamento de valor particular, exemplos de eficiência e efetividade, medidos não somente por números, mas pelo imponderável direito à vida.
Rogério Morais*
“Quando tinha 7 anos, eu presenciei meu pai tentando matar minha mãe, então eu parti para cima dele. Foi quando ele parou de bater na minha mãe e me jogou na parede... eu já não era mais o filho que ele gostava”. Este é um dos relatos que o paciente Antônio Feliciano, diagnosticado com a Covid-19, escreveu quando esteve internado por treze dias na enfermaria do Hospital Provisório do Recife 2, nos Coelhos. Aos 58 anos, além dos traumas da violência doméstica, a sua vida foi marcada pela situação de rua, vivenciada desde sua adolescência, que inclui o consumo de drogas.
Durante o seu período de internamento, o típico caderno capa dura, de tamanho grande e cor verde – que recebeu o título de “Pensamentos de um menino” – serviu de diário e foi o seu instrumento de refúgio emocional. Com um quadro de complicações respiratórias e hipertensão apresentado, além dos cuidados médicos, Antônio recebeu todo acompanhamento dos profissionais da equipe de psicologia e serviço social, que se estendeu até o dia de sua alta.
Este é o relato de um sobrevivente, dos mais de 1.000, nos sete hospitais de campanha criados pela Prefeitura do Recife durante a pandemia da Covid-19. E cada vida salva é um infinito, pois não se pesa estatisticamente o valor de uma vida humana. Seu Antônio escreverá novas páginas no seu destino. E essa história somente pôde ter a chance de ter continuidade, devido a duas competências decisivas da reação do município frente aos desafios: prontidão e diligência.
A prontidão de estar atento para montar um comitê de enfrentamento ao vírus ainda em janeiro; de ser a primeira capital a suspender as aulas, antes mesmo da consolidação do consenso sobre a emergência da medida; e das comunicações diárias de forma clara e verdadeira, estabelecendo a confiança que garantiu o comprometimento social necessário da população para termos os maiores percentuais de isolamento.
A diligência de processar contratações de novos profissionais, de adquirir Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e respiradores, articular doações com uma grande rede de solidariedade. Velocidade que, em comparação com outras cidades, aponta para um volume de entregas muito acima da média, de tal maneira que o sucesso para orquestrar soluções despertou uma necessidade de críticas, onde a gana do poder pelo poder se sobrepõe à necessidade de aliança por um progresso compartilhado, pelo bem comum.
O enfrentamento da pandemia é o desafio de governabilidade e prestação de contas mais próximo de uma guerra que vivemos. Agir no caos exige da liderança senso inerente de democracia e a prática amadurecida de princípios ainda incipientes no país do modelo de uma Administração Pública Societal. O bom combate não pode jamais perder de vista a premissa de uma gestão mais social, participativa e focada nas necessidades dos mais vulneráveis, principalmente no país democrático mais desigual do mundo.
Assim, compreendendo que problemas complexos não podem ser solucionados com uma lógica linear cartesiana, entendo que a postura da gestão municipal da Prefeitura do Recife deixará, sob uma análise positiva, sem julgamento de valor particular, exemplos de eficiência e efetividade, medidos não somente por números, mas pelo imponderável direito à vida.
*Rogério
Morais é secretário executivo para a Primeira Infância do Recife
[Ilustração: Ivald Granato]
Boas leituras nos ajudam a resistir https://bit.ly/3cAI1te
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