01 julho 2020

O desastre do MEC


Educar pelo exemplo
José Luís Simões*

É antieducativo ser sectário ou extremista na conduta social. Entendo que a moderação e capacidade de diálogo são fundamentais na vida. Aristóteles, no livro “Ética a Nicômaco”, alertou para o risco de posições extremistas na vida e na política. O filósofo indica a temperança e o equilíbrio como virtudes fundamentais. Comungo com essa opinião e, portanto, não torço para que o governo de Jair Bolsonaro naufrague. Um mau governo prejudica o povo, inclusive as pessoas que não votaram ou não apoiam o atual governo.

Entretanto, sinceramente, as escolhas do presidente da República para o Ministério da Educação são bizarras. Claro que é triste, mas não surpreende tanto. Afinal, que mensagem o governo quer passar no setor da educação? O primeiro ministro indicado mal entendia a Língua Portuguesa e tinha completo desconhecimento do funcionamento das escolas públicas no Brasil. Ficou no cargo cerca de três meses e sucumbiu.

O segundo, Abraham Weintraub, bloqueou recursos das Universidades Federais e promoveu balbúrdia, com diversos ataques contra a comunidade acadêmica. Além disso, usava as redes sociais com frequência para vomitar palavras de ódio, além de provocar crises diplomáticas desnecessárias. Mostrou ser xenófobo, despreparado e mal educado. Por fim, durante a histórica reunião ministerial de 22 de abril, atacou ministros do Supremo Tribunal Federal com o adjetivo de “vagabundos”. Foi acuado pelas circunstâncias, demitido do MEC, saiu às pressas para os Estados Unidos com receio de ser preso no Brasil, afinal, calúnia é crime pelo Código Penal Brasileiro.

O novo Ministro da Educação, o militar reformado Carlos Decotelli, cometeu plágio na dissertação de mestrado, teve a tese de doutorado reprovada pela banca avaliadora da Universidade Nacional de Rosário e inventou que tem pós-doutorado na Alemanha, o que foi desmentido pela Universidade de Wüppertal. Enfim, começou dando um grande mau exemplo à sociedade. O que ele vai dizer aos estudantes que vão prestar o ENEM 2020? Teria moral para afirmar que a fila (ou cola) na prova é crime?

Como pesquisador, utilizo e alimento a plataforma Lattes desde 1998, quando ingressei no mestrado. Nunca passou pela minha cabeça inserir no Currículo Lattes uma informação inverídica ou algum curso que eu não tivesse concluído.
O item 5 do Termo de Adesão à Plataforma Lattes reza sobre a conduta e obrigações do usuário. Diz o seguinte: “Como condição para utilizar o serviço, o usuário concorda em: a) fornecer informações verdadeiras e exatas; b) aceitar que o usuário é o único responsável por toda e qualquer informação cadastrada em seu currículo, estando sujeito às consequências administrativas e legais decorrentes de declarações falsas ou inexatas...”
No final do Termo de Adesão à Plataforma Lattes é destacado que as declarações do usuário são feitas “em observância aos artigos 297-299 do Código Penal Brasileiro”. E agora? Quanto tempo resistirá no cargo o novo Ministro da Educação que cometeu plágio, coloca informações inverídicas no próprio currículo e inventa que é pós-Doutor?

Apesar desses arroubos e desgovernos, vamos seguir acreditando no futuro. Defendo que a educação é investimento e a inclusão é cada vez mais necessária para fortalecer a democracia, a luta por justiça social. É urgente dar bons exemplos às futuras gerações.

O grande ato educativo é o exemplo. Acredito que educar é mais do que ministrar conteúdos científicos. Educar é dar bons exemplos de conduta ética e moral.


*José Luís Simões, professor do Centro de Educação/UFPE
[Ilustração: Otto Freundilich]
Desafios da realidade concreta https://bit.ly/3fd2YMs

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